Lá vamos nós, a caminho de mais um final de ano. Um ano difícil, como têm sido os últimos para todos os brasileiros que trabalham duro para pagar o colégio das crianças, cuidar da saúde, comprar um carro novo ou um imóvel. Isso para não entrar no dia a dia. Mas convenhamos, nem tudo foram ou são espinhos na vida da gente. Tem sempre o que agradecer e comemorar.
Como cidade, inegavelmente, Novo Hamburgo conseguiu dar uns passos adiante. Alguns problemas crônicos foram resolvidos ou tiveram encaminhamento. O centro revitalizado ajudou a erguer a moral da população, que começou a botar a mão e ajudar na solução de outros problemas que o poder público, sozinho, não dá conta. E por aí vai.
Você também, se fizer um pequeno inventário dos últimos meses, vai ver que gramou aqui e ali, mas também conquistou uma coisa ou outra. E eu também. Durante este ano, trabalhei com o tema Meio Ambiente Cultural na revista Expansão e no meu blog, contando sempre com a colaboração da Procuradora do Município de Novo Hamburgo, Cinara de Araújo Vila. Trazendo assuntos interessantes, sempre ligados a Novo Hamburgo consegui fazer crescer exponencialmente o número de pessoas que me acompanham. Mas como o ano, este tema também está se esgotando.
Quero convidar você para a última matéria do ano nesta abordagem. Vamos encerrar falando de cemitérios. Não precisa sentir calafrios. O conteúdo é especial. E no ano que vem, iniciaremos uma nova jornada e um novo tema, que já quero adiantar: alguns viajantes que saem de Novo Hamburgo para o mundo, na sua volta, trarão um Presente de Viagem para nossa cidade.
Miguel Schmitz comandou Novo Hamburgo num período crucial do nosso desenvolvimento. O ex-prefeito mantém o porte elegante e o sorriso afável. Sua memória privilegiada nos levou a um passeio por tempos nem tão distantes, em que o presente que vivíamos incentivava sonhar com o futuro e fazer grandes planos. Seu Miguel, como é mais conhecido hoje, já deu contribuições fundamentais para a expansão e amadurecimento do nosso município.
Miguel Schmitz, atuação permanente na comunidade.
Ele assumiu a prefeitura de Novo Hamburgo em 31 de janeiro de 1973, num período em que surgia a exportação de calçados por aqui. Isso gerou um processo de forte migração para a cidade e um enorme desafio: acompanhar esse surto de crescimento atendendo as demandas de infraestrutura em todos o níveis: educação, saúde, sistema viário. “Foi desafiador” ele diz. “Essa situação gerou um nível de dificuldades enormes para um período muito curto.”
Fazer infraestrutura para uma população que saltou de 80 mil para 120 mil habitantes foi um dos seus grandes legados. E é por isso que temos essa série de avenidas na cidade: como não podia fazer tudo, ele pensou que ao menos poderia facilitar os deslocamentos e a logística na cidade. Construiu Av. Victor Hugo Kuntz, Cel. Travassos, Guia Lopes, Sete de Setembro, Cel. Frederico Link – que estava destruída –, Eng. Jorge Schury e a estrada para Lomba Grande entre outras.
“Conseguimos realizar uma série de obras de infraestrutura que hoje são praticamente a espinha dorsal de Novo Hamburgo. Tem coisas que me gratificaram muito. Outras tantas, também, não consegui realizar”, diz. Seu Miguel, como prefeito, também transformou a Fenac de um embrião comunitário em uma empresa pública e esta teve e ainda tem um papel de destaque no cenário econômico da cidade.
Com a comunidade por quem sempre se dedicou.
Perguntei sobre a criação da Galeria de Artes e um sorriso largo estampou seu rosto. “Isso é uma boa história! Estava no gabinete no dia 8 de outubro de 1973. Entra o Alceu Feijó, que era o meu assessor de imprensa, com um papelzinho na mão… – Miguel, tu tens que telefonar para esse cidadão aqui. Ele está radicado há anos na cidade de Florença, na Itália. Está de aniversário hoje. E nós teremos o Sesquicentenário da imigração alemã no próximo ano.”
Seu Miguel continua: “Eu nunca tinha ouvido falar nele… peguei o telefone, telefonei… Scheffel, aqui é Miguel Schmitz, prefeito de Novo Hamburgo. Não nos conhecemos, mas quero te parabenizar pelo aniversário e também te formular um convite: tu és convidado oficial para assistir os festejos do Sesquicentenário da Imigração Alemã. Tivemos a felicidade de fazer com que o extraordinário artista Ernesto Frederico Scheffel viesse, na condição de convidado de honra, participar das comemorações.”
Com a presença do artista na cidade, surgiu a ideia de criação da Galeria de Artes Ernesto Frederico Scheffel, em prédio histórico por ele escolhido, que o então prefeito desapropriou para que recebesse a galeria. Restaurado, o prédio acolheu o maravilhoso acervo de suas obras, doadas ainda em vida.
A cultura teve um papel de destaque na administração de Miguel Schmitz. Aconteceram diversos festivais de teatro e não havia um centro de cultura. Num dos festivais conseguiram trazer um grande nome que, mais adiante, foi homenageado e será sempre lembrado através do Centro de Cultura Paschoal Carlos Magno. Festivais de corais também aconteciam com inúmeras representações, não só do Estado, mas do Uruguai, da Argentina, e o palco era o Cine Lumière, num prédio que ficava onde hoje é o Calçadão.
Tarso Dutra, Ministro da Educação na época.
Seu Miguel acredita que no futuro Novo Hamburgo será uma cidade obreira, desenvolvida e destaque no cenário estadual e nacional. Para quem reputa a emancipação da cidade como o momento mais marcante da nossa gente, não daria para esperar outro tipo de esperança. “Os habitantes caracterizam-se pelo empreendorismo. É um povo organizado, trabalhador, honesto e receptivo, que conserva algumas tradições de seus antepassados.” conclui.
Das tantas conversas que tive ultimamente com pessoas da nossa comunidade, recortei algumas frases para dividir novamente com você. Algumas iluminadas, outras estimulantes.
“A eternidade não é matéria, é espírito. E o que podemos deixar é esse espírito de inovar, renovar, transformar e de estar sempre a serviço da comunidade.”
Esta receita que para muitos pode parecer exótica, virou uma sensação gastronômica de época nas icônicas bancas de Novo Hamburgo. Mais precisamente na Banca 8, hoje comandada pela Sra. Ruth Erna Petry e seu filho Claudio.
Cláudio Petry, o criador da iguaria “pão com chimia, nata e salsichão”, em 1962.
“Em 55/56 o Cláudio, meu falecido marido, introduziu o famoso salsichão com pão, chimia e nata, acompanhado de café com leite. Isso não existia, mas era uma coisa de origem alemã que logo pegou, virou sucesso”, lembra dona Ruth.
Em 1949 a rodoviária de Novo Hamburgo era na Pedro Adams Filho e, próximo dela. Os comerciantes queriam suprir as necessidades dos viajantes que por ali transitavam, embarcando e desembarcando num vai e vem frenético para a época.
O Centro já tinha bastante movimento e havia o cinema, os bailes e as reuniões dançantes que aconteciam na antiga sede social da Ginástica, onde está o Calçadão e, hoje, é o Espaço Cultural Albano Hartz. Muita gente circulava por ali e lá no início dos anos 50, as bancas já trabalhavam 24 horas por dia.
“Eu pegava o ônibus na antiga rodoviária, mas nem olhava para os lados. Assim, também não percebia que o Cláudio estava de olho em mim”, conta dona Ruth. “Ele teve coragem e veio conversar comigo. Em 1956 começamos a namorar, noivamos e casamos em 1957.”
Cláudio Filho, Ruth e Danilo na Banca 8.
Sr.Danilo, ex-sócio da Banca e amigo da família lembra que naquela época o comércio era atendido basicamente por homens. “A mulher ainda era mais voltada para o lar. A Ruth foi uma das pioneiras.”
Um fato muito interessante: quando as bancas foram criadas, os proprietários combinaram e determinaram o que cada um poderia vender. O objetivo era um não atrapalhar os negócios dos outros. Na Banca 8 era só café e refrigerante. A 7 era a banca da maçã, dos sorvetes e batidas. Eles tinham um fornecedor de maçãs que vinham da Argentina, eram acondicionadas nuns saquinhos tipo uma rendinha vermelha e o pessoal vinha comprar ali, porque nem se encontrava maçã no supermercado naqueles tempos. Na banca 6, vendia-se revistas, jornais, vitaminas e sucos. Na banca 1 eram loterias…
Outra situação que muitos ainda devem trazer na lembrança é a presença de certas figuras pitorescas que frequentavam as bancas. Dona Ruth relembra: “tinha o Macuco, o Medonho, o seu Bruxel, que era um homem muito culto que vivia na rua. O Macuco tinha uma memória incrível. Vendia bilhetes de loteria e, também por isso, gostava de memorizar as placas dos carros. Acabava sendo uma estratégia de venda, pois ele já separava os bilhetes com os números das placas de quem ele conhecia e sabia para qual cliente oferecer.”
Mas o Sr.Danilo faz questão de dizer: “Eles sempre passavam por aqui, mas não incomodavam, não seguravam lugar, entende? Andavam pra cima e pra baixo, de bairro em bairro até cansar e depois iam embora. Não ficavam azedando por aí, não sujavam, não desrespeitavam ninguém.”
As bancas viraram um ponto de encontro, uma referência na cidade, não por acaso. Dona Ruth conta que os desfiles de 7 de setembro, o carnaval na avenida eram emocionantes. “As famílias inteiras vinham trazendo cadeiras e iam se acomodando atrás do cordão de isolamento. Era muito legal.”
Bancas, um ponto de referência da cidade. (Foto: Marcos Quintana/Arquivo pessoal)
A revitalização e a instalação dos novos equipamentos deve devolver as bancas ao centro das atenções, pois são um cartão de apresentação, um ponto de referência da cidade. As bancas são um legado da história de Novo Hamburgo, um patrimônio público da cidade. No futuro, quem sabe, não sejam transformadas em patrimônio cultural.
Outro dia me deparei com um furo na parede da minha sala e ele me fez relembrar do porquê está lá. Foi ele que ajudou a redirecionar a minha atuação profissional, mudou minha percepção e me fez descobrir que ajudar as pessoas a encontrarem o imóvel que procuram na cidade que eu adoro e conheço tão bem não me dá trabalho. Me dá prazer, me dá satisfação, me dá alegria.
O furo eu fiz para pendurar o que seria o cenário dos vídeos que eu pretendia produzir, dando dicas de como escolher um imóvel. Orientação solar, facilidades de transporte e comércio nas proximidades, por exemplo. Coisas que qualquer corretor está preparado para dar ao cliente e, cá pra nós, a maioria das pessoas já sabe. Fiz uns pilotos, depois desisti da ideia, recolhi o cenário e o furo ficou. E agora ele vem me lembrar de como mudar é bom.
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Mudar de atitude, mudar de casa, mudar de vida é ótimo. Mas claro, temos que acreditar na mudança a que nos propomos, porque só assim conseguiremos construir algo ou alguma coisa realmente nova e representativa. Com uma tomada de briefing mais aprofundada, um olhar mais atencioso para aquilo que meus clientes realmente querem, seja para morar ou para investir, para construir uma família ou instalar uma empresa, meu atendimento se aprimorou. Meus negócios melhoraram. Minhas relações se fortaleceram.
O norte de cada um nos torna diferentes. Mas a energia necessária para realizar o que almejamos exige o mesmo para todos. Isso vale até para quem quer trocar de casa, dar um upgrade na vida. E as vezes o que te move é algo tão singelo como um furo na parede. Um primeiro passo.
Guilherme Kley é um empresário que se fez sozinho. Aos 17 anos concluiu que estava na hora de trabalhar por conta própria e ali começou, em 1957, a orquestrar os movimentos que resultariam na empresa conhecida hoje pelo nome de BurgoBrás. Aos 84 anos, seu Guilherme lembra com clareza o passo a passo da construção de uma marca que conquistou o respeito e a parceria de outras muito maiores, como Brastemp e Consul. Mas tudo começou mesmo com as bicicletas.
Desde o início, preparada para atender os chamados de toda a região.
Aos 17 anos ele virou empresário. “Eu fiz um curso no Senai e logo depois fui trabalhar numa firma de máquinas para calçados. Sabia trabalhar com fresa, torno, plaina. Fiquei um ano por lá e comecei a achar que poderia fazer mais, apesar de ser uma empresa sólida, boa”, diz.
Juntou o dinheirinho que tinha, fez um acordo com a firma e reuniu o capital necessário para abrir uma pequena oficina de bicicletas, numa peça bem humilde, para não pagar muito aluguel. Passado algum tempo, associou-se ao cunhado e ao irmão dele para fundar a “Casa das Bicicletas”.
Eduardo e Fábio, juntos pela continuidade do sonho do seu Guilherme.
“Nessa época eu tinha 18 anos e, acredite, não existia fábrica de bicicletas no Brasil. Eram todas importadas. Eu ia a Porto Alegre comprá-las”, lembra. Comprava a bicicleta, tirava da caixa de papelão e montava ali na rua mesmo, na frente da loja. Voltava pedalando até Novo Hamburgo e trazia, ainda, alguns pneus presos no corpo.
Chegando aqui, lavava a bicicleta, lubrificava e regulava para, no final da tarde, o freguês vir buscá-la na loja. Só vendia à vista. Tempos depois seu Guilherme acabou comprando a parte da sociedade do cunhado e do irmão dele. “Tinha bastante serviço de reparos e as fotos das bicicletas para vender. Os clientes começaram a vir e escolher, entre os três modelos das fotos, qual queriam comprar.”
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Seu Guilherme criou, então, um expositor de madeira para deixar em frente a duas fábricas de calçados, todos as manhãs, com uma bicicleta e o preço. A partir daí, disse, “passou a vender em prestação.” Com experiência nos negócios, resolveu ampliar os serviços e passou a fazer pequenos consertos em batedeiras e liquidificadores. Ofereceu para algumas lojas de eletrodomésticos da cidade e o negócio deu tão certo que lhe ofereceram a manutenção de outros eletrodomésticos, como geladeira e ar condicionado. Em 1973, virou autorizado Brastemp e depois Consul.
Em 1992 foi criada a marca BurgoBrás, para desassociar a empresa do nome do seu Guilherme Kley. Para o futuro, os filhos Eduardo e Fábio planejam o avanço na área da engenharia, com projetos comerciais e industriais. O objetivo é manter a tradição por assistência técnica de eletrodomésticos e refrigeração e crescer na área da engenharia.
Uma loja moderna em harmonia com o bairro.
Quero saber se o bairro Hamburgo Velho é um bom lugar para empreender. Pai e filhos concordam que a área tem características Ímpares: valorização do patrimônio histórico, a beleza do bairro, o comércio, a tranquilidade. O prédio onde está a sede da BurgoBrás foi construído em 1871.
Quando nossos antepassados começaram a produzir, negociar, expandir a história de Novo Hamburgo, há menos de um século, o mundo funcionava de forma diferente. Muito diferente. Mas é assim o processo de construção de conhecimento, de cultura, arte e tudo que faz a identidade de uma comunidade. Uma marca de produto que existe até hoje vivenciou toda esta tranformação e fui conversar com Maurício Klein, neto do fundador da Calçados Jacob, detentora da marca Kildare, e uma das fabricantes de calçados em atividade mais antigas do país.
Kurt Jacob e família.
Kurt Jacob, o avô do Maurício, foi um dos tantos alemães que vieram para o Brasil num período em que a Europa andava conturbada e não oferecia muitas perspectivas. Guarda-livros, tinha também uma facilidade grande para o relacionamento social e o trabalho manual. Em 1910, chegou ao Rio de Janeiro, ficou um tempo por lá, depois migrou para São Paulo, onde conheceu algumas famílias de alemães que estavam a caminho do Rio Grande do Sul e veio junto. Trabalhou aqui e ali e retornou para o seu país.
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10 anos se passaram e em 1920 ele voltou ao Brasil, já pensando em ficar definitivamente. Veio, então, direto para o Rio Grande do Sul e logo teve o seu coração capturado por Tecla Saile, moça de uma família que já estava estabelecida. Sua família fazia tipografia e caixas de papelão para sapatos. Casou-se em 1923. Em dezembro de 1928, começou uma fábrica de botões, que era uma necessidade por aqui. Tinha como cliente principal a Alpargatas. “Mas logo percebeu que o calçado estava se desenvolvendo bem no Vale e então fundou a fabrica de sapatos, com o apoio societário de Adolfo Jaeger”, conta Maurício.
“Passou a fazer calçados, mas não abandonou os botões, que utilizava nas sandálias. Na época ainda não existiam fivelas”, diz Maurício. E completa: “uma coisa interessante, que talvez poucos saibam, é que naqueles tempos, início da década de 60, o calçado era vendido por dúzia de pares para os clientes varejistas.”
Uma das fábricas de calçados mais antigas do país.
Todas fábricas daqui trabalhavam da mesma maneira. Os produtos, muito parecidos, eram enviados de navio para São Paulo, em caixas enormes de madeira. A casa construída por Kurt Jacob ficava onde, atualmente, é o Prontomed. Na Marcílio Dias, onde foi e continua instalada a sede da fábrica, já havia o arroio Luiz Rau, obviamente. Só que na época não tinha ponte sobre o arroio e um sujeito se encarregava de atravessar o pessoal na garupa para chegarem com os pés secos no outro lado. Dá pra imaginar isso? Era assim a nossa Novo Hamburgo.
“O meu avô, fazia o padrão. Aí entraram meu pai e o meu tio na fábrica, no final da década de 60. Havia a necessidade de fazer um produto diferente, de custo acessível. Como tinha muita disponibilidade de couro branco e no Rio de Janeiro sapato branco vendia bem, apostaram. Os produtos venderam muito para lojas que colocavam em hospitais e, assim, criou-se um mercado.”
Terceira e quarta geração: da esquerda para a direita, Eduardo, Andressa, Maurício (filho) e Maurício (pai).
A marca Kildare foi criada quando tiveram que se diferenciar não só nos produtos, mas como empresa. A inspiração veio de um seriado onde a estrela era um médico, o Dr. Kildare. Como os sapatos eram brancos, o personagem era um modelo de conduta, adotaram o nome Kildare. A partir daí, a marca foi evoluindo, passou a ser reconhecida pela qualidade e está aí até hoje, como uma referência do sucesso empreendedor dos nossos representantes.
Colaboração: Cinara de Araújo Vila – Procuradora do Município de Novo Hamburgo
“Do Central Park, quando criado, ouviam-se opiniões imobiliárias do tipo: muito distante de tudo, não é negócio. Hoje é uma das regiões mais valorizadas do mundo.”
Num café com a Procuradora do Município de Novo Hamburgo, Cinara de Araújo Vila, colaboradora no projeto MAC – Meio Ambiente Cultural, que escrevo mensalmente na revista Expansão, surgiu o assunto dos melhores parques do mundo. E aí a conversa enveredou para o nosso Parcão.
Com 54,1 hectares de muito verde, o parque, com certeza, é um dos influenciadores da valorização imobiliária do entorno. Tomando por base o desempenho de regiões semelhantes no mundo, como consultor imobiliário, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que investir ali é bom negócio. E existem muitas oportunidades. Nos últimos anos, foram investidos 4 milhões em obras de estruturação do parque e o apreço por ele só aumenta. A ampliação do hospital Unimed é outro fator que vai influenciar o metro quadrado por ali.
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O local fazia parte dos lotes divididos em 1825, no início da colonização alemã, e fica dentro do centro histórico de Hamburgo Velho, numa área maior que o Parque da Redenção, na capital. Ele abriga várias espécies da flora e da fauna da região. É uma unidade de conservação municipal, envolve patrimônio histórico, patrimônio cultural e natural.
A aquisição das terras que formam o parque foi uma decisão tomada pelo Executivo a partir da mobilização da população hamburguense. Mais uma vez “a comunidade”. Não é incrível isso? Em 1986, uma comissão denominada “Grupo do Parque” reuniu-se com o então prefeito Atalíbio Foscarini e foi dado início à campanha comunitária que reuniu 4.304 assinaturas num abaixo-assinado. Naquele tempo tinha-se que, praticamente, bater de casa em casa para buscar adesão.
Foram anos de luta até que, em 19 de fevereiro de 1990, o prefeito Paulo Ritzel adquiriu a área por quarenta milhões de cruzeiros novos. O patrimônio é de toda a cidade, mas vale muito e cada vez mais para quem paga IPTU por ali. Fica a dica do Ponto de Vista do mês.
Outubro se avizinha e já faz desabrochar na mente da Therezinha lembranças que compõem sua história de empreendedorismo, que vai completar 40 anos. Mulher aguerrida, virou empresária quando percebeu que o ramo do marido, a alfaiataria, perdia espaço para as lojas de vestuário que pipocavam por Novo Hamburgo lá em 1979. Fui visitar a velha amiga, relembrar outras épocas e, na volta para casa, trouxe junto seu exemplo de superação.
Para as empreendedoras, a criatividade é saber misturar tudo o que se ama e inovar com novos serviços.
Therezinha Chassot é a fundadora da floricultura mais tradicional de Novo Hamburgo: a Rosinha Decorações. Em 79, percebendo o movimento de renovação no comércio do vestuário, área de atuação do esposo, preocupou-se logo com o bem-estar da sua família e passou a pensar num jeito de ajudar a garantir o orçamento familiar. As flores lhe mostraram o caminho.
“Na região que habitávamos não tinha muita coisa, mas sabia que os vizinhos gostavam de enfeitar as casas, presentear as pessoas… Aí pensei: – Com uma loja de flores poderia facilitar a vida deles e isso poderia ser bom para nós também. Me associei com uma sobrinha e combinei com o Rafael, meu marido, que trabalharia meio ano. Se desse certo, continuaria. Se não desse, encerrava o negócio.”
O ponto de partida foi sua própria casa. Na véspera da inauguração, as flores estavam chegando e com elas, chegou também o representante de uma funerária que ficava próxima. Encomendou, de pronto, 3 coroas. “Quando a gente abriu, no dia seguinte, as vizinhas vieram logo. As pessoas que frequentavam a casa mortuária também viam que no outro lado da rua tinha uma floricultura e isso ajudou a disseminar o nome. Ficou bem visitada a nossa casa.”
Naquela época, as flores mais nobres eram as rosas e os cravos, e as mais comuns, os crisântemos. Na inauguração, lembra Therezinha, foram vendidas quase todas as flores da loja para vizinhos e velórios. As salas mortuárias ficavam onde, atualmente, é o Centro Clínico Regina. Um ano e quatro meses depois, Kátia, sua filha, ingressou como sócia na empresa, tornando-a familiar e ajudando no seu desenvolvimento institucional e comercial.
A Rosinha Decorações orgulha-se de manter um conceito de inovação em produtos, com buquês e arranjos com design sempre atuais e uma participação destacada em decorações de eventos pela região. Ela foi precursora no serviço de Assinatura de Flores no Vale dos Sinos.
Para Kátia Schu, Hamburgo Velho é um bom lugar para empreender. “É um bom bairro, com grande fluxo de pessoas, economicamente diversificado, com comércio durante o dia e entretenimento à noite. Escolas no seu entorno, referências na área de saúde. Tudo isso, garante uma boa circulação de público.”
Em termos imobiliários, Kátia diz que vale a pena investir. “A valorização dos prédios, terrenos, residências e comércio é crescente e tem potencial para mais”, afirma. Na perspectiva dos empreendedores, sugere: “seria muito bem-vinda uma padaria e confeitaria, assim como uma sorveteria, em especial para a rua General Osório. Uma lotérica também seria uma boa pedida. Sentimos falta desse tipo de serviço. ”
Para relembrar alguns e não deixar esquecer a outros o seu nome e a sua visão, fui tomar um café com a professora Traude. Traude Schneider conheceu e conviveu com o professor Sarlet, uma das mentes mais privilegiadas e respeitadas do nosso passado recente. Homem de temperamento forte, criado no Velho Mundo, enfrentou uma grande guerra e, quando desembarcou por aqui, trazia gravado na alma as razões pelas quais deveríamos trabalhar para não permitir que acontecesse entre nós, aquilo que vivenciara.
Prof. Ernest Sarlet, um belga apaixonado pelo Brasil e pela natureza.
A professora Traude conta que Sarlet era um homem de muita cultura, que contribuiu decisivamente para o que nós somos. Chegou na Fundação Evangélica em 1955 e a primeira aula que deu foi de história, para a turma dela. Era um dos tantos professores que vieram fugidos da guerra ou depois dela para viver aqui. Acreditava num homem melhor, num ser humano inteiro, com conhecimento, com cultura, com respeito pela natureza.
“Ele atuou muito tempo como professor e fez carreira na Fundação Evangélica. Chegou a Diretor Geral. Trabalhou fortemente na modernização das relações, fortaleceu os Círculos de Pais e Mestres e gestou a criação de uma nova estrutura: a Instituição Evangélica.” O conhecimento, a filosofia, o caminho que ele queria para a educação causava encantamento.
Como Secretário de Educação de Novo Hamburgo implementou o conceito “do aipim ao computador” nas escolas.
Foi por isso que Traude e outra ex-aluna, Berlize Ko Freitag, aceitaram o convite para trabalhar com o professor e assumiram a vice-direção em outras unidades sob a sua batuta, que eram das comunidades religiosas de Hamburgo Velho e Novo Hamburgo. Cada uma cuidava do seu perfil de cliente, mas todas trabalhavam sob um mesmo propósito.
“Foi um trabalho complexo, dele e de nós duas, transformar três escolas em uma só, com um pensamento só. Tínhamos que trazer as colegas das outras unidades como irmãs”, lembra a professora Traude. No início do ano, Sarlet organizava um seminário com as três escolas. Falava ele e quem mais fosse necessário para apresentar os propósitos do ano. Depois, cada escola trabalhava o seu método, sabendo que fazia parte de uma unidade. E tinha que prestar contas.
É Negócio? Confira
Sua política era uma educação integral. Ele defendia que nós temos que ensinar o aluno a ser um cidadão, cuidar da sua cidade, da sua escola, do meio ambiente, da arte e de si mesmo. Os pais o respeitavam enormemente. Sobre política na escola, Sarlet pregava que somos todos cidadãos políticos, mas não podemos fazer política partidária dentro da escola.
O professor Sarlet trouxe para Novo Hamburgo o grande incentivo da escola de educação infantil. Na Alemanha, havia a “kindergarten” – Jardim de infância, e ele replicou. Introduziu nas escolas o psicólogo, o supervisor escolar. A informática. As professoras eram motivadas ao trabalho porque ele dava condições de estudo, aprimoramento. Pouco se sabia sobre educação infantil até sua chegada.
Profª. Traude Schneider
Traude afirma: “ele era um visionário. O prefeito Atalíbio Foscarini, que também olhava adiante, que queria uma Novo Hamburgo próspera, teve a sensibilidade de convidá-lo para Secretário de Educação. Sarlet trouxe a informática para o ensino municipal, com o conceito “Do aipim ao computador”. Do Distrito Rural de Lomba Grande ao centro da cidade, todas as escolas deveriam dar acesso ao computador.”
“O que será que o professor Sarlet pensaria da educação hoje? É um boa pergunta para os pais e educadores responderem”, reflete a professora Traude.
Colaboração: Cinara de Araújo Vila – Procuradora do Município de Novo Hamburgo