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HAMBURGO VELHO É UM ESPETÁCULO! LITERALMENTE

Faz quase um ano, fui assistir um recital de piano de Fabio Luz (Brasil/Itália) na Fundação Ernesto Frederico Scheffel. Era uma terça-feira, 10 de outubro. O recital, emocionante, teve a participação especial da mezzo-soprano Angela Diel.

Mas e o que dizer do casarão em estilo neoclássico onde funciona a Fundação Scheffel, e que serviu à comunidade de diferentes formas? Foi residência, escola, local de eventos culturais, casa comercial e até hospital. Fiquei comovido só de olhar a edificação, construída no ano de 1890, por Adão Adolfo Schmitt.

Fundação Scheffel: uma das maiores pinacotecas do mundo entre as compostas por obras do mesmo artista.

De repente, envolvido naquele clima de romantismo cultural, me peguei absorto viajando no tempo, e passeando mentalmente pelo bairro histórico que deu origem à cidade e ainda conserva razoável parte de seu patrimônio relativo à imigração alemã.

Revi o Museu Comunitário Casa Schmitt-Presser, construído em técnica enxaimel e tombado pelo patrimônio histórico; a Igreja Evangélica Luterana dos Reis Magos e a Igreja Nossa Senhora da Piedade, ambas restauradas e contando com belíssimos vitrais. Os dois cemitérios, o Luterano e o Católico, com diversas lápides executadas por volta 1890, e esculpidas com detalhes góticos e com epitáfios em alemão.

Que espetáculo é este bairro Hamburgo Velho, pensei com meus botões. Há várias outras casas em estilo eclético, com características da imigração alemã, com frontão recortado e telhado com inclinação acentuada. Ruelas que nos levam de volta no tempo e prédios que nos colocam de volta ao mundo de hoje.

O bairro abriga o Hospital Regina, o Campus I da Universidade Feevale, o Techpark, o hotel Swan Tower, lojas sofisticadas e modernos espigões. Morar em Hamburgo Velho é um privilégio, sob vários aspectos.

O ENGENHEIRO QUE QUERIA SER MÉDICO

“A engenharia química me encantou”, confessa Alvaro Goldoni. Ele saiu de Encantado/RS com 17 anos, para estudar em Porto Alegre, bancado pelo pai, que trabalhava duro para os filhos poderem ir o mais longe possível na vida.

Alvaro fez bom proveito das oportunidades que teve e, com a ajuda dos sócios Flordelino, David e Rogério Goldoni, além de Mauro Pedro Becker e Nelson Da Silveira, fundaram, em 1991 a Ecovita, empresa sediada em Novo Hamburgo, especializada em soluções químicas para tratamento e pigmentação de couros, laminados sintéticos, tecidos e madeiras.

David, Danielle e Alvaro formam a atual gestão da Ecovita.

“Vim para Porto Alegre prestar vestibular de medicina, pois meu teste vocacional indicava áreas humanas, ciências biológicas. Acabei não passando. No meio do ano, fiz o vestibular para as engenharias.” Alvaro, então, passou em primeiro lugar para engenharia química na PUC, com pontuação para cursar  medicina na UFRGS. Era o destino tomando as rédeas.

“Durante a graduação, fiz alguns estágios na área petroquímica e, formado, retornei para Encantado. Fui trabalhar na Fontana S/A, empresa que continua ativa, já próximo dos 90 anos. Foi onde comecei a minha carreira. Trabalhei durante 5 anos nessa companhia, adquiri um bom conhecimento químico e fiz um grande networking.”

O irmão e sócio Rogério sempre foi visionário e empreendedor, comenta. Formado como técnico químico na indústria de couros, teve experiências com várias empresas daqui e do exterior. Foi ele que incentivou Alvaro a deixar o interior e montar um negócio de soluções químicas aqui em Novo Hamburgo.

“Foi uma decisão bastante difícil, pois já tinha esposa e filhos e não sabia o que teria pela frente. Além disso, o prefeito da época, Eugênio Nelson Ritzel, pedia encarecidamente, com pagamento de passagem e frete de caminhão, para os migrantes voltarem para o interior. Isso nos deixou bastante preocupados. Rogério, por sua vez, já tinha um negócio de couros com outros 2 sócios, Mauro e Nelson.”

A Ecovita começou, então, com os produtos que ele dominava -domisanitários, detergentes e desinfetantes. Alvaro e Rogério tinham outro irmão residindo  em Porto Alegre, que estava desempregado. Convidaram-no e David trouxe experiência e conhecimento para as áreas de compras e gestão. Para a gestão financeira, convocaram o pai, que já estava aposentado, e aí funcionou mesmo foi a química da família para fazer o negócio dar certo.

Passados alguns anos, abriram linhas para outros segmentos como têxtil, madeira e sintéticos. Tudo corria bem até que a China fez um estrago grande no setor calçadista.

“Em 98 o setor de couro estava bastante complicado. Resolvemos participar da FIMEC, o que nos ajudou muito. Um amigo empresário, que já participava algum tempo da feira me apresentou o gestor de uma indústria holandesa,  a Triade Chemiske Fabrik BV, que buscava um partner no Brasil para sua linha de corantes. Nossa parceria se mantém desde lá.”

Alvaro conta que, com a internacionalização, obrigou-se a viajar para a China, que ainda era muito fechada. “A primeira vez foi bastante complicado. Passamos, eu e nosso representante comercial, 30 dias no país, com muita dificuldade na comunicação. O inglês, lá, não era muito falado.”

A China ainda é um dos principais fornecedores de matéria-prima da Ecovita. Mas com todas as idas e vindas, a empresa também começou a fazer o caminho inverso, e exporta para lá há muitos anos.

Alvaro revela que tem trabalhado intensamente na diversificação e consolidação de antigas e novas parcerias que surgiram. Também,há algum tempo, a Ecovita dedica-se a estabelecer princípios de governança e sua filha, Danielle, vem assumindo mais e mais importância na gestão do negócio, mostrando que a química entre a família continua dando liga.

 

RUAS DE NOVO HAMBURGO – GENERAL OSÓRIO

A história de uma rua é como o roteiro de uma vida. Feita do tempo que passa, das pessoas com quem convive, das ações que a transformam. A rua General Osório, em Novo Hamburgo, é um pequeno grande exemplo disso. Tem apenas 1,2 Km de extensão, mas uma relevância que se impõe como o próprio personagem a quem homenageia. É parte fundamental do desenvolvimento passado, presente e futuro da cidade.

General Osório: rua mais importante do Corredor Cultural de Novo Hamburgo.

Até meados de 1960, a rua General Osório integrava a rodovia RS 019 e fazia a ligação entre Novo Hamburgo e São Francisco de Paula. Mas sempre foi bairrista e comprometida com os sonhos da gente daqui. Hoje, é mais representativa do que nunca. Tem valor histórico e construções que remontam ao século XIX para emoldurar seu percurso, encantar nossos olhos e nos mostrar a importância da preservação.

Prédios de diferentes épocas, como o do Colégio Santa Catarina, o da antiga Sociedade Frohsin (atualmente GSFM), projetado pelo arquiteto alemão Theo Wiederspahn, as casas das famílias Richter, Klein, Momberger, Snel, Grünn e o antigo Posto Engel sobrevivem na General Osório, que foi reconhecida pelo Plano Diretor do Município como área de interesse histórico-cultural.

A rua é um dos eixos mais importantes do Corredor Cultural de Novo Hamburgo. Hoje, predomina o comércio,  ocupando quase 40% dos estabelecimentos, mas a rua tem mais de uma centena de domicílios representados por casas, sobrados, edifícios de apartamentos ou conjuntos residenciais.

Paulo Petri, de Piracaia/SP, mora há 23 anos em Novo Hamburgo. Diz que sempre achou a rua charmosa e privilegiada. “ É perto de tudo, tem segurança boa, e me proporcionou morar numa casa com estilo antigo e tecnologias atuais, após uma boa reforma.”

Paulo Petri

Deivid Schu, outro admirador confesso, argumenta que, além do aspecto histórico-cultural, a General Osório se mantém cada vez mais viva, em transformação constante. “Além de ser um bairro onde, outrora, haviam muitas indústrias e hoje se firma como um espaço com comércio e serviços pujantes, em especial nos segmentos de saúde, bem-estar e entretenimento, que trazem comodidade à população do entorno e visitantes da cidade.”

Deivid Schu

RUAS DE NOVO HAMBURGO – JOAQUIM NABUCO

Ela principia em Hamburgo Velho, quase no topo. Dali, se lança destemida morro abaixo por 2Km, quase em linha reta, marcando um trajeto emocionante e, talvez, um dos mais relevantes de Novo Hamburgo, até chegar ao plano terreno do bairro Rio Branco, onde ela, a rua Joaquim Nabuco, recepcionava àqueles que chegavam aqui em busca de emprego e riqueza, nos vibrantes anos da economia impulsionada pela indústria calçadista.

Joaquim Nabuco: uma rua predominantemente comercial com 722 empresas ativas.

Antes, porém, de homenagear o escritor, político, abolicionista e diplomata pernambucano nascido em Recife Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, chamava-se rua 15 de Novembro. Neste período, já dona dos seus encantos naturais, atraiu para si a primeira sede social da Turnverein Neu Hamburg – Sociedade Ginástica Novo Hamburgo, quando o município ainda era um distrito de São Leopoldo. A inauguração deu-se em 11 de julho de 1894.

A Joaquim Nabuco, de uma ponta a outra, tem quadras e quadras das quais a comunidade pode se orgulhar, se inspirar, se projetar. Algumas poucas edificações históricas permanecem, é verdade. Entre elas, um dos mais importantes cartões postais da cidade, e referência de geolocalização para quem mora, circula ou visita a nossa cidade: a Catedral Basílica São Luiz Gonzaga, cuja construção foi iniciada em 7 de janeiro de 1924. Na Igreja Matriz da cidade de Novo Hamburgo, planejada, pelo Arquiteto José Lutzenberger, encontram-se obras de renomados pintores, como do italiano Aldo Locatelli e do nosso conterrâneo Marciano Schmitz.

A rua Joaquim Nabuco está localizada no bairro Centro. Hoje, sua ocupação é predominantemente comercial. É, praticamente, um shopping a céu aberto, com 69,23% dos espaços abrigando estabelecimentos comerciais. São 722 empresas ativas. Residências de áureos tempos e modernos edifícios completam o cenário, pincelado de verdes e de um anoitecer esplendoroso, dependendo da altura em que você está olhando o céu, nesta rua magnífica e que representa muito do nosso passado, no nosso presente e do nosso futuro.

 

 

 

DE PAI PARA FILHO

César Oliveira criou a Armeria em 1982, depois de passar por experiências de trabalho em fazendas, oficina mecânica e até na burocracia de um escritório. Fez uma trajetória incomum e corajosa até encontrar seu caminho empresarial, numa atividade que aprendeu a gostar desde que tinha 8 anos de idade. Armeria, que é nome fantasia da empresa, ele esclarece, é uma expressão usada tanto na Espanha como na Itália para caracterizar loja de armas. “O termo correto, em português, seria armaria.”

Lucas, com apoio do pai, dá continuidade ao negócio da família.

Aos 16 anos, tendo concluído o segundo grau, foi auxiliar na administração da fazenda do pai em Canguçu, município gaúcho hoje reconhecido como a Capital Nacional da Agricultura Familiar. Lá, criavam gado, plantavam soja e milho. 3 anos se passaram nesta lida campeira, até o pai ser convidado para assumir uma fazenda no Mato Grosso, como gerente rural. Um ano depois, chamou César para ir ao seu encontro. E lá se foi o guri.

“Fiquei um ano morando no meio do mato. Era uma fazenda enorme, muito extensa. Precisávamos cavalgar mais de um dia para atravessá-la. Monotonia, certamente não havia na minha vida, que ainda tinha idas e vindas ao RS para rever a família, viagens na maioria das vezes feita de camionete, numa aventura de 3.000 km.

Encerrada a proeza em Mato Grosso, retornou para Novo Hamburgo. “Fui trabalhar como mecânico na Sinoscar. Quando achei que estava apto, precisando melhorar minha situação, pedi um aumento e não ganhei. Sem problema! Pedi as contas e fui embora. Coisas da idade, que repeti depois, com o mesmo roteiro, na Plínio Fleck, onde trabalhei no faturamento.”

Todos estes acontecimentos, entretanto, serviram para mostrar ao César o que ele não desejava para si. A vida é assim, nos dá alternativas, mas é preciso se conhecer para poder entender quem a gente quer ser. “Meu pai sempre foi caçador. Nas temporadas de caça, praticava todos os finais de semana e me levava junto. Com 8 anos, tinha uma arma minha, preparada por ele. Nasceu aí meu gosto por armas.”

Foi um legado de pai para filho, conta ele, orgulhoso por dar continuidade agora com seu filho Lucas, que está ao seu lado pensando e atuando no desenvolvimento de novos rumos para loja, que já tem 39 anos. Sempre contei com o apoio da família, que é essencial, para seguir em frente”.

Além do pai caçador, César conta que tinha uma amizade muito forte com o Paulo, da antiga Casa Paulo. “Nós éramos companheiros de caçada e eu seguidamente estava na loja deles. Nessa convivência, percebi que não existia, em Novo Hamburgo, uma oficina de conserto e restauração de armas. Era uma oportunidade de negócio e comecei assim, fazendo consertos.”

“ Virei cliente da Amadeo Rossi na aquisição de peças e, com tempo e trabalho, conquistei o direito de ser um assistente técnico. Fui fazer os cursos de especialização, dentro da própria Rossi, para atender as armas em garantia e as armas de conserto da marca. Logo em seguida, passamos a dar assistência também para a CBC e para a Taurus.”

A paixão pelas armas aumentou ainda mais a partir de 1980, quando iniciou no tiro desportivo, modalidade a qual se dedica até hoje na companhia do filho e participando de competições.

César relata que o empreendimento começou a ganhar escala e então trouxe um amigo – já falecido – que acabou se identificando muito com o serviço. “Éramos curiosos, ativos e decidimos abrir um negócio na raça e na coragem. Com alguma experiência adquirida na convivência com o pai e amigos de caçadas, começamos desmontando e limpando as armas. Passados alguns anos, começamos a venda de armas, munições e acessórios em geral.”

Em 2003, a Armeria foi para a rua Joaquim Nabuco, onde está até hoje, funcionando como loja de armas e clube de tiro. “O bairro Centro é lugar de grande circulação de pessoas e estar estabelecido aqui nos dá visibilidade, o que é muito bom para o negócio.”

 

 

 

 

NO EDIFÍCIO DO SÍLVIO SANTOS

Luivar Marchioro nasceu em 1966, na cidade de Nova Araçá. Hoje é o dono das lojas Selet (uma de iluminação e outra de materiais elétricos, em Novo Hamburgo, e planejando a abertura da terceira em Garopaba – SC). Para chegar até aqui, Luivar teve que, primeiro, fugir da roça, literalmente. Ele e alguns amigos, todos na faixa de uma dezena de anos de idade, decidiram virar padres. “Com 14 anos, lá em 1980, fui para o seminário em Caxias do Sul.”

Eram outros tempos. Não havia os equipamentos modernos e o capital do agronegócio em ação; nem a tecnologia e os avanços da ciência na cadeia produtiva dos alimentos. “Naquela época ganhava-se uma miséria para trabalhar de sol a sol. Nenhuma criança nunca desejou isso. Para estudar tinha que caminhar 4km. Então, vimos no seminário uma maneira de fugir daquela situação.”

Luivar Marchioro: 2 anos andando pelas ruas de SP ajudaram a conhecer a cidade e pegar gosto pela construção.

A turminha ficou lá por 2 anos, até que os padres perceberam que não tinham vocação e aconselharam, a todos, seguir outro caminho. “Uma certeza eu tinha: não queria voltar para Nova Araçá.” Do seminário em Caxias do Sul, ele foi direto para São Paulo, atrás de um irmão mais velho que já morava por lá. Empregou-se num dos grandes escritórios de arquitetura da capital paulista.

“A esposa do meu irmão trabalhava como telefonista num edifício que era do Sílvio Santos e num dos andares estava essa empresa. Foi por influência dela que me deram o emprego de office boy.” Passou 2 anos andando pelas ruas de São Paulo. Aprendeu a gostar conhecer a cidade. E foi assim que pegou gosto pela construção.

Com o falecimento do pai, teve que retornar em 1982, para ajudar a mãe e a irmã menor, com 6 anos, que ficaram com uma roça imensa para cuidar. Ou seja, voltou para o lugar do qual fugiu. Continuou os estudos até completar o segundo grau. Em 1985, fez vestibular para arquitetura na Unisinos.

“Para ter algum dinheiro e pagar o curso, vim de auxiliar de eletricista para Novo Hamburgo, em 1986. Em 87, por não ter como pagar nem mesmo o apartamento subsidiado pela prefeitura, aceitei a gentileza do diretor da empresa e fui morar na garagem da casa dele, que não era usada! Dois anos depois, a empresa entrou em dificuldades e, antes de encerrar as atividades, fizemos uma parceria e fiquei com os clientes.”

Apaixonado e a fim de desfrutar de mais conforto e tempo junto à amiga e namorada de infância, alugou uma kitinete, sem nenhum mobiliário, onde foram morar juntos. E foi ali, por causa desta relação, que nasceu a Mafer Instalações Elétricas Ltda. Em 1998, a fim de expandir seu mercado, a Mafer associou-se com outra empresa do ramo e, em 2018, após uma dissolução amigável de sociedade, a companhia passou a se chamar Selet.

Planos para o futuro? Luivar garante que não faltam. Abrir operações em  Xangri-lá e Gramado estão no  radar. “Também estamos ampliando a nossa participação no mercado com mão-de-obra, através da aquisição de uma outra empresa”, antecipa ele, que vê o bairro Centro como um bom lugar para investir. “Sem dúvida. Tenho crescido muito nesse bairro”.

 

 

RUAS DE NOVO HAMBURGO

Quem primeiro chamou minha atenção para tudo que pode estar envolvido ou representado numa rua foi Paulo Henrique Kern, em seu livro Ruas & Praças de Novo Hamburgo – que guardo autografado. A partir do livro, fiquei querendo abordar o assunto, até que numa entrevista com o ex-Prefeito Miguel Schmitz, veio a deixa. Ele citou algumas das nossas avenidas, falou o motivo da implantação delas e porquê se tornaram a espinha dorsal da cidade.

Muito antes de Cristo, dar nome aos locais de passagem foi a maneira encontrada pelo homem para saber onde estava e qual o melhor caminho para chegar aonde pretendia ir. Só que as ruas e seus nomes tornaram-se tão corriqueiros em nossas vidas, que nem nos questionamos sobre elas. São parte do cotidiano e pronto!

Av. Dr. Maurício Cardoso já foi assim.

Cada cidade tem legislação específica para nomear suas ruas. Nossa Novo Hamburgo não é diferente. Mas temos aqui personagens importantes, que serão perpetuados na nossa história porque viraram nome de rua. Pedro Adams Filho, Victor Hugo Kunz e outros tantos, por exemplo. Mas também temos a 1º de Março; a Nações Unidas… Por isso, em 2021, na minha coluna “É Negócio?”, na Revista Expansão, aqui no blog e nas minhas redes sociais, vou explorar um pouco destas veias que alimentaram e pavimentaram nosso caminho.

É importante frisar que, como Consultor Imobiliário, meu olhar naturalmente se direciona para locais que progridem, valorizam os investimentos, atraem interesses. Então, precisei optar por um critério, pois, certamente, referências importantes poderão não ser contempladas. O critério adotado foi a extensão das vias.

Tomara que o tema “Ruas de Novo Hamburgo” seja do seu agrado. Espero continuar tendo a sua companhia nestas incursões pela nossa cidade. Tenho certeza que podemos projetar o futuro, fazer acontecer num pensamento, numa atitude, numa iniciativa, numa empresa.

Na edição de maio, vamos revisitar um pouco da história da Rua Joaquim Nabuco.

 

EU TAMBÉM QUERO

A Danda Bike está presente no mercado gaúcho desde 1991. É uma das pioneiras no segmento bike shop do estado. Jandir, dono da loja e também do apelido que deu identidade ao negócio, cultivava desde novo o hábito de fazer trilhas de moto. Pegou gosto pelo off road, diz. Natural de Campo Bom, onde viveu até os 30 anos, Jandir fez o segundo grau na Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, onde cursou mecânica.

“Com 18 anos, comecei a fazer meu estágio na Plínio Fleck. Fiquei 1 ano na área da mecânica e, depois, migrei para o setor comercial da empresa.” Jovem, destemido, pensou que seria mais feliz fazendo algo mais próximo daquilo que lhe atraía, mexia com sua adrenalina. Decidiu sair da empresa e peitar a vida.

Irmãos e sócios, Jairo e Jandir (Danda) transformaram a Danda Bike numa das lojas mais conceituadas do segmento bike shop da região.

“Como também curtia correr em cima de uma bike, decidi colocar uma loja de bicicletas.” Entre decidir e realizar, entretanto, havia um salto grande a ser dado. Tinha que aprofundar o conhecimento sobre o negócio e só tinha um jeito: trabalhar no ramo. Por quase um ano, dedicou-se a aprender, trabalhando numa loja em Sapiranga.

“Com 21 anos, achei que era o momento de partir para a carreira solo. Mas não queria ser mais um, queria oferecer algo diferente, como acessórios importados, por exemplo, que na época não se encontrava na região. Mas onde conseguir? Descobri uma feira de bicicletas em São Paulo e fui atrás. Lá conheci um fornecedor.”

Uma antiga garagem do avô de um amigo foi o primeiro endereço da loja. “Era uma casa que estava fechada. Uma parte eu usava para vender peças e na outra era a oficina. Durante 5 anos fiz praticamente tudo sozinho. Mas com uma alegria imensa no coração. Era um trabalho que me dava e ainda me dá muito prazer.”

Operando sem funcionários e sem capital, não dava nem para cogitar viajar, visitar feiras, conhecer novas alternativas e outros fabricantes. O jeito era comprar no escuro mesmo. “Recebia umas 20 páginas de catálogos por fax e ia só pela descrição. As vezes nem sabia como era o funcionamento, só olhava o preço e, se dava pra pagar, mandava vir.” Algumas aquisições davam certo, ele conta. Outras, marchava com o investimento.

“Como ninguém saía daqui, não iam atrás, eu tinha peças que os outros não tinham. Foi um grande diferencial. Decidi, então, partir pra venda de bicicletas inteiras. Novamente precisei ir a São Paulo, procurar, negociar… Hoje tu encontras tudo no celular.”

Veio o boom do mountain bike e a loja cresceu junto. “Eu praticava com alguns amigos, o pessoal notava a diferença das minhas bicicletas e pediam: – Eu também quero. Assim, a Danda Bike foi desenvolvendo, criando personalidade própria. De repente, já não estava dando mais conta de atender sozinho.”

Jandir então resolveu conversar com o irmão e este deixou a área calçadista e os dois tornaran-se sócios. “Mudamos de endereço e ampliamos a loja. Conseguimos trabalhar com marcas boas e estávamos indo bem. Aí roubaram todo nosso show room. Quase quebramos.”

Foi um momento dificílimo, talvez o mais difícil para eles. Embora tivessem seguro, precisaram acionar judicialmente a seguradora. Quando receberam a indenização, a inflação e o dólar alto haviam quase aniquilado com o sonho. Os irmãos decidiram seguir o caminho, desbravar nova trilha. Alugaram uma sala escondida numa galeria, por três anos.

“Um dia, o Jairo andando por Novo Hamburgo, identificou um espaço que poderia ser o trampolim para atingir um mercado maior. Isso em 2011. E viemos para cá. Fomos muito bem recebidos na cidade, conquistamos nosso espaço com muito trabalho e, atualmente, somos uma referência de loja de bikes na região e parceiros comerciais de uma das marcas americanas mais conceituadas do mundo, a Specialized. Temos clientes de outros estados que vem comprar bicicletas na loja.”

A dupla quer aperfeiçoar sua presença nas plataformas digitais, mas não pretende abandonar o bairro Hamburo Velho. “A gente gosta muito do bairro. Próximo do centro, facilita o acesso dos nossos clientes de diferentes cidades.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HORA DE QUEBRAR A CARA

A Blitz surgiu na cabeça dele em 1996. Tinha lá seus 18 anos, trabalhava numa corretora de seguros e – num belo dia – viu brilhar uma oportunidade. Everson Reynaldo é formado em Educação Física pela Universidade Feevale. Desde cedo, teve que correr atrás dos seus objetivos. Com a Blitz, chegou a ser reconhecido com o título de Melhor prestador de serviços do Brasil pela FEDEX, há alguns anos.

Everson Reynaldo: com o advento da internet, o que hoje é um serviço, amanhã pode não existir mais.

Nascido em Tramandaí, veio com 5 anos para Novo Hamburgo. Os pais eram aqui da terrinha. Todavia, tiveram comércio lá durante um bom tempo. Tramandaí – Novo Hamburgo – Tramandaí -, resolveram fixar residência no litoral. “Eu fiquei morando com uma tia. Aos 17 anos, já morava sozinho.”

No tempo da corretora, Everson fazia os serviços externos da empresa. “Ali eu comecei a perceber que havia uma necessidade e não tinha ninguém especializado para atendê-la. Eu trabalhei de office-boy dos 14 aos 17 anos. Na seguradora, ampliei minha visão. Se precisavam levar material para uma companhia em Porto Alegre, por exemplo, não havia um serviço para isso. Então, eu ia de moto e, quando estava chovendo, de ônibus.  Isso com 18 anos. Enxerguei ali um nicho que poderia render.“

Encerrado o ciclo, Everson foi trabalhar numa imobiliária. Como sempre atuara na rua, ficar preso numa sala começou a lhe causar um certo desconforto. Só que além de ter emprego, os funcionários tinham ali um auxílio que representava 80% do custo da faculdade. Prestes a concluir o segundo grau, foi conversar com os pais. “Minha mãe achou que eu não deveria sair de lá. Era a grande possibilidade de cursar uma faculdade. Meu pai me disse o seguinte: “- A hora de tu quebrar a cara é agora. Ninguém depende de ti ainda.“

Foi aí que teve uma das decisões cruciais da sua vida. Pra começo de conversa, me confidenciou, não achava certo aproveitar-se do emprego para cursar Educação Física, graduação que, depois, não agregaria nada para a imobiliária. “Pedi demissão e, em março de 1997, iniciei meu negócio. Aluguei uma sala, consegui uma mesa e cadeira de bar; aluguei uma linha de telefone e comecei a trabalhar. Era o motoboy, o gerente, o comercial, o cara que tinha que trocar a torneira, como qualquer empresa pequena.”

Esta imobiliária virou seu primeiro cliente. Entregando boletos de aluguel para os locatários, faturava o necessário para garantir o seu próprio aluguel. Mas tinha que comer, vestir, sair, se divertir. Precisava de mais clientes e foi em busca de outros segmento. Vieram os serviços bancários de diversos negócios. “O serviço foi aumentando e passei, gradativamente, a contratar pessoas.”

“No início da Blitz percebi que o turismo era uma área muito interessante. Cheguei a trabalhar para umas vinte agências daqui. Pegava passaportes, vistos, pacotes de viagens nas operadoras em Porto Alegre. Ia diariamente para a capital. Com o advento da internet, isso acabou. Passamos a operar com a área jurídica. Tínhamos uns 25 escritórios de advocacia na carteira. Como tudo passou a ser online, também acabou.”

São assim os negócios. Há que se ter resiliência para ser empreendedor. Como desistir não era uma alternativa, seguiu o baile. “Há 10 anos passamos a ser parceiros da FEDEX na distribuição de máquinas de cartão de crédito. A excelência dos nossos serviços foi reconhecida, fomos destacados e fui convidado para palestrar em São Paulo, para a rede de cartão de crédito e todos os gerentes da FEDEX. Também atendemos duas grandes empresas de saúde com serviço 24 hr, rede de farmácias e uma diversidade enorme de outros clientes.”

O nome Blitz, conta, foi sugestão do seu ex-gerente na imobiliária. Em alemão quer dizer raio, explica. “Quando comecei, botei o nome Tele-boy.  Muita gente confundia, pois entendia que nosso negócio era outro. Recebíamos ligações de pessoas que buscavam a contratação daquilo que não oferecíamos” (risos).

Para o futuro, ele pretende intensificar o trabalho no e-commerce, que ainda é regionalizado, comenta. Pergunto sobre o bairro Operário. “Gosto muito daqui e me dá agilidade no atendimento. Estamos a 800 metros da BR-116, a 1,2 km da RS-239 e muito próximo do Centro.’

 

 

 

 

ERRANDO SE APRENDE

Roberto Krug nasceu em Novo Hamburgo. Até completar 18 anos, dedicou-se aos estudos. Mas, chegada a maioridade, veio também um choque de realidade. “Fui trabalhar como digitador na Sinoscar, meu primeiro emprego. Passada a primeira semana, achei que era melhor continuar estudando. Pedi pra mãe pagar a faculdade e recebi o melhor conselho da minha vida:”

– Tu tens saúde, te dei estudo, agora tu te vira para fazer a tua vida.

Numa frase curta e definitiva, ela cortou a relação umbilical e iluminou a estrada da vida do filho. Roberto trabalhou 6 meses na revenda de automóveis, superou o medo que acompanha a transição da adolescência para a vida adulta e, então, viu a oportunidade de dar um passo à frente: uma vaga no BCN  Servel, o braço de processamento de dados do banco.

Betina com o pai Roberto: segunda geração na continuidade da Shadow’s.

“Trabalhava das 20h até as duas da manhã. Mesmo com a faculdade, tinha horário livre durante o dia e aproveitava para andar de moto.” Moto e frio, no entanto, dá uma combinação ruim. No raciocínio de um empreendedor, todavia, é um problema que exige solução. Comprar uma jaqueta de couro era muito caro.  Pensa, pensa, pensa… “Resolvi fazer uma jaqueta emborrachada e deu certo. Um amigo quis comprar, outro amigo também…”

Vislumbrando uma oportunidade, Roberto procurou uma conhecida na Comoto. Falou das jaquetas e ela adorou. Comprou 10. “Aí eu pensei: isso aqui pode dar dinheiro!” As primeiras peças, conta, cortava literalmente no chão dos fundos da casa da avó. Só que podia cortar em dias bons. Quando chovia, não tinha como.

O negócio foi evoluindo, o serviço aumentando e andar de moto, que era um prazer, virou ferramenta de trabalho. Pendurava os rolos de nylon e espuma nela quando saía para comprar materiais. Em 1989, contratou a primeira funcionária. Ou seja, virou uma empresa. Foi quando nasceu a Shadow’s.

“Então, acabei expulsando o carro do meu pai da garagem dele e peguei umas portas de armário para fazer minha primeira mesa de corte.” Tudo lindo, tudo maravilhoso, mas o projeto não era sustentável. “Eu fazia jaquetas para o inverno. E no verão, fazer o quê?” Mas nem tudo estava perdido, ele continuava empregado no banco. O lucro do negócio podia investir todo no próprio negócio. E pensar não custa nada.

“Acabei criando mochilas e comecei a me profissionalizar na área comercial.” Em 1990, o setor que trabalhava no banco foi extinto e, com isso, decidiu dedicar-se exclusivamente à empresa. “Sempre digo que, nos primeiros anos, aprendi como não se administra uma empresa. E isso foi bom, afinal, errei muito para depois continuar a aprender sempre.”

O network do Roberto, na época, o conectou com a fábrica detentora da marca Diadora no Brasil, que estava desembarcando no país. Queriam produzir mochilas para distribuir em toda América Latina. “Minha estrutura era pequeníssima. Mas sempre tive coragem para aceitar desafios. Confiaram no meu produto e decidi me aperfeiçoar em todos os sentidos.” Roberto relembra, com orgulho de um fabricante de “fundo de quintal”, ter tido o privilégio de assistir ao tenista Guga Kuerten entregar uma bolsa feita pela Shadow’s para o Jô Soares, no Programa “Jô Onze e Meia”.

Na década de 90, novos percalços. “Quando abriu o mercado internacional, começaram a vir mochilas muito baratas para o Brasil. Perdi espaço e precisava encontrar um novo nicho. Percebi que não havia no mercado, malas para  os representantes de calçados levarem suas amostras. Fiz e deu certo.”

Numa viagem ao Rio de Janeiro, sentou ao lado de Roberto Argenta, presidente da Calçados Beira-Rio. Numa conversa de avião, falou que produzia malas para sapatos. Ele disse: “- Nunca ouvi falar disso aí! Toma o meu cartão e vai lá na empresa, em Igrejinha, fala com o pessoal do marketing.” Eles adoraram e nossa parceria, abriu o mercado de malas personalizadas para amostras de sapatos.

A Shadow’s produz malas para os mais diferentes segmentos. A última grande conquista foi a CBF, que comprou mais de 50 itens para as seleções brasileiras.

“Agora estou partindo para a segunda geração. Minha filha mais nova está na empresa desde os 16 anos, passou por todos os setores e, quem sabe, um dia, vai dar continuidade aos meus passos.”

Pergunto: o bairro Rondônia é um bom lugar para empreender? “Com certeza! Vejo especificamente a minha rua como uma área industrial, já que temos muitas empresas, dos mais variados segmentos.