PERDÃO, ME EXPRESSEI MAL

As vezes o tiro sai pela culatra. Não estou abandonando coluna, blog, pesquisas, nada. Estou trocando um plano de abordagem por outro. Só isso. E espero que continue sendo merecedor da atenção e da participação de todos vocês.

Queria fazer este esclarecimento em respeito as muitas mensagens de carinho que recebi de hamburguenses que, como eu, gostam de Novo Hamburgo. Gente que entendeu que eu estava abandonando nossas conversas, nossos encontros. Nada disso. Cada vez mais, acredito que vivemos numa comunidade interessante, que vale a pena investir.

Somos todos Novo Hamburgo e o nosso futuro é a gente que faz.

ATÉ MAIS VER

Infelizmente, neste momento, vou ter que me despedir, dar um até logo. Não economizei esforços, dediquei-me com intensidade e, com o apoio incondicional da revista Expansão, onde escrevo mensalmente, iniciei contatos com entidades e parceiros diversos para a realização de um projeto muito bacana, que diz respeito a todos nós que somos e vivemos Novo Hamburgo. O cenário atual, imprevisível, nos obriga a mudanças. E postergar essa ideia que não posso dizer o nome é obrigatório.

É difícil se desligar de algo com o qual se passou horas, semanas, meses sonhando, curtindo, planejando. Mas como dizem os mais sábios, quando não há solução, solucionado está. Então, aqui no blog, na coluna da Expansão, no Boletim dos Associados da ACI, terei que mudar o foco, adotar outra abordagem para continuar falando daquilo que gosto.

Se me permitem voltar um pouco no tempo, essa história de falar sobre Novo Hamburgo e colocar a cidade como centro absoluto do meu trabalho comercial e institucional originou-se há cerca de 6 anos, com uma pesquisa sobre os bairros. Friso, sempre, que foi um estudo particular, sem caráter científico, com um único objetivo: aprimorar meu conhecimento e melhorar meu atendimento aos clientes que buscavam um imóvel na cidade. O assunto foi me envolvendo e aqui estamos, eu e você, falando sobre nossa aldeia, o que acho ótimo. Só que o projeto 2020 vai ser 2021 e vamos para o plano B, que virou plano e virou B por absoluta necessidade.

Eu já vinha fazendo uma reedição da pesquisa sobre os bairros. Outra vez, só queria espiar o mercado, compreender e entender o que as pessoas gostam, o que elas não gostam, o que falta, o que poderia valorizar cada bairro… Preciso saber disso, senão, como vou dar uma boa assessoria para os clientes que me procuram? Qual minha surpresa quando me descubro de novo no início do caminho!

A história se repete: Jorge Trenz volta algumas casas no jogo. Retorna à proposta original de simplesmente entender Novo Hamburgo. Será que as respostas serão as mesmas? Parecidas? Ou o contexto alterou, as percepções mudaram? É isto que vamos, juntos, começar a desvendar agora. Adianto, com alegria, que houve um bom número de participações. Vamos eleger os assuntos mais destacados no geral e, depois, falar com quem responde por cada área. Espero que possa despertar o seu interesse e continuar tendo sua importante e adorável audiência.

 

 

 

ME DÁ UM ABRAÇO!

Nas partidas e nas chegadas, o abraço é o climax. Depois dele, a vista vai ficando distante, o cenário vai se transformando, sensações diversas se misturam e… Nosso mundo muda!  O inverso também acontece. Antes dele, o abraço, o coração acelera, os sentimentos se projetam desordenados à frente dos acontecimentos; uma história fica para trás, a imagem dos amores e das coisas da gente vai clareando e… Voltei! Que viagem! É outra vida.

Abraço é partida, é chegada… é dizer tudo, sem falar nada.

Confinados, não damos e não recebemos abraços. Não há partidas, não há chegadas. Novidades? Não temos tantas assim. Adiamos tudo. Paramos tudo. Aquele beijo ficou para depois. Aquele sonho vai ficar para depois. Nossos projetos vão ter que esperar. Mas o tempo passa, o tempo voa. Logo, logo o abraço volta. O sorriso reaparece. O vai e vem do mundo acontece outra vez.

Que a gente aprenda a valorizar o abraço antes da ausência.

Quando tudo ficar “normal” novamente – e que seja logo – gostaria que você olhasse, se inteirasse e participasse do projeto que estamos tendo que segurar, porque envolve abraço, emoção, ir e vir, olhares, expectativas, conquistas. Ele envolve o mundo e um mundo de coisas que, talvez, o afastamento temporário nos faça perceber: somos muitos e somos só um que depende do outro.

As viagens alargaram as fronteiras e os conhecimentos da humanidade. Desvendaram novas terras, novos ares. Quantas descobertas: seda, especiarias, cores, diferentes amores. É tanta coisa, tanta mudança. As línguas, as roupas, os cantos, as crenças. A descoberta transforma e trazê-la para a realidade da aldeia é como um presente especial.

É nesse pensamento que queremos agregar pessoas com interesses no desenvolvimento de Novo Hamburgo. Como consultor imobiliário, tenho defendido que o patrimônio de cada um se valoriza quando o todo é valorizado. Uma solução que se vê ali no município vizinho ou lá naquela esquina distante de outro continente, pode ser a chave para resolver ou aprimorar alguma coisa aqui. Mas se ninguém trouxer a ideia, se ninguém falar, se ninguém revelar, como saber?

O abraço do reencontro sempre é o mais importante.

Do trabalho e da visão dos que nos precederam, ficou um legado invisível: a inserção que temos no comércio global nos faz viajar muito, enxergar coisas sob diferentes ângulos. O que o arquiteto vê, o empresário não percebe. A visão do educador, do médico, do desenvolvedor de sistemas, é diferente da do escritor. Mas todas contribuem para construir o amanhã. Na volta da viagem, um abraço e um presente surpresa, até nossa cidade quer. Aguarde!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LAR DOCE LAR

Velha conhecida nossa, a frase aí do título resume bem e com profunda sabedoria emocional o que representa o lar, esse casulo que nos recebe e nos acolhe, faz nos sentir gente e nos dá segurança e coragem para acordar e ir à luta pela manhã e retornar para o merecido descanso à noite. Há várias significâncias contidas nestas três palavrinhas, todas carregadas do mais sincero sentimento. Não há nada como o nosso lar!

Lar é aconchego, é acolhimento, é ninho!

Neste período de confinamento, então, onde nossas rotinas foram fortemente afetadas e nossos hábitos transformados, o imóvel de cada um foi alçado a um protagonismo sem precedentes. Nunca passamos tanto tempo em casa. Gostando dela ou com planos de deixá-la apenas nas lembranças das histórias da vida, todos fomos obrigados a enxergar o lar de novo como lar, e não apenas como um lugar.

Passada a pandemia, entretanto, voltarão os desejos, as trocas, os negócios. Nós, humanos, somos assim. Queremos mudar, evoluir, respirar outros ares, esquecer um passado recente, construir um futuro ao lado de alguém ou longe, bem longe, quem sabe? É a vida, e para bem vivê-la, todos precisam de um lugar para chamar de seu. Melhor ainda, se puder chamar de lar.

Eis aí uma sutil diferença que anos de experiência no mercado imobiliário me fizeram perceber. Quando um cliente busca uma casa, um apartamento, não é só isto que procura. Exceto quando é o primeiro imóvel, naturalmente visto como investimento para potencializar um up-grade ali na frente, encontrar o imóvel pretendido é como querer encontrar um amor.

Nosso lar: é onde podemos ser o que realmente somos.

Um imóvel é sempre mais que um endereço, mais que uma representação social. Mesmo que estas características pesem na escolha, no fundo no fundo, procura-se um local único, exclusivo, com características bem próprias para receber a algazarra das crianças ou o silêncio dos eruditos, dos observadores…

Na minha reclusão, tempo para pensar não tem faltado. Torço que possamos voltar logo a nos relacionar, sonhar e desejar aquele lugar, pois estarei ainda mais preparado para entender o tipo de imóvel que cada um quer ter.

 

 

 

 

REVISITANDO O PASSADO

Uma pesquisa realizada anos atrás, colocou-me num caminho que não conseguia imaginar para onde me levaria. Estávamos, só para variar, num período de crise no Brasil. Tudo era difícil, o dinheiro escasso, os nervos se mostravam a flor da pele, os empregos ameaçados, a economia no chão.

Eu já atuava com imóveis. Mas toda crise parece a pior de todas. Como agora. Depois a gente vê que sobreviveu, que o bicho era feio mas nossa competência era maior. E a vida segue seu rumo. Foi num cenário difícil, tentando fazer diferente pra fazer diferença, que surgiu a tal pesquisa.

2016: Resultado da pesquisa.

A ideia era conhecer melhor e mais profundamente Novo Hamburgo, a cidade onde vivo e trabalho. Estruturei as perguntas e fui a campo tentar descobrir o que as pessoas gostavam no bairro em que residiam ou tinham negócios; o que lhes faltava e era importante; o que gostariam de ver melhorado. Nesse vai e vem, fiz relações, reencontrei amigos e velhos conhecidos e a história acabou no jornal NH, como exemplo de empreendedorismo na crise. Muita gente viu e comentou também.

Seguindo a trilha por onde a vida me levava, assumi a responsabilidade com uma coluna mensal na revista Expansão, para falar de Novo Hamburgo, do segmento e dos resultados dessa pesquisa, feita de forma amadora, mas com interesse e dedicação. Depois veio o blog e tudo foi se alinhando no sentido de conhecer, compartilhar conhecimento e ajudar as pessoas a encontrar o imóvel que elas querem, num bairro que elas curtem, enfim, dar uma sustentação maior àquilo que faço.

Agora, pensei que já era tempo de retomar esta matéria. A cidade mudou, os hábitos e desejos das pessoas mudaram, nossa cidade e nossos vizinhos já não são mais tal qual os conhecíamos. Qual a percepção dos moradores e empreendedores de Novo Hamburgo hoje? Está a fim de saber também?

Então fique ligado, acompanhe o blog. A realidade que surgir daí, vamos tentar aprofundar com quem comanda cada área.

NÓS, DENTRO DE NÓS

Como serão as relações pós-pandemia? Negócios, amores, amizades serão afetados? Sei que estas questões não têm respostas prontas, nem definitivas, mas como olhar o mundo a nossa volta a partir deste ponto em que estamos? Pelas tecnologias que nos amparam nesta hora, me socorri da Jacqueline Schneider, psicóloga, para fazer uma reflexão sobre a realidade que jamais pensávamos viver.

Jacqueline Schneider, psicóloga.

“A rapidez e o impacto dos acontecimentos igualou a todos na surpresa”, afirma Jacqueline. “Para muitos, a reação inicial foi a compulsão. Compulsão por notícias, estatísticas, compras de papel higiênico, álcool gel, mantimentos, tudo para diminuir a ansiedade causada pelo possível enfrentamento de algo catastrófico. O efeito? Pessoas descontroladas, deixando-se inundar pela ansiedade, alimentando-a mais ainda.”

“Findado o momento de correr às compras e fazer da casa uma trincheira, passamos a nos comunicar freneticamente pelas redes sociais, trocando mensagens, vídeos, notícias – nem todas reais, nem todas verdadeiras, algumas mais desinformando do que informando – num contínuo alimentar da ansiedade.”

“O isolamento vai gerar descobertas”, diz a psicóloga. Obrigado a ficar em casa, o ser humano precisa encontrar outras formas de trabalhar, de se ocupar, de se relacionar. “Eu acho que, de um modo geral, nada mais vai ser o mesmo. ” Uma situação nova causa mudanças naturalmente. Mas o medo muda as coisas de lugar, altera percepções e comportamentos. E já mudou nossa rotina.

“Eu sinto que nesta turbulência muitos têm parado para pensar sobre o ritmo com que vinham levando a vida. Quantos compromissos assumidos no trabalho e nos relacionamentos sociais, quanto desgaste com coisas com as quais não há nenhuma afinidade? Que valor isto tem numa hora dessas?”

“O isolamento fez com que as pessoas tomassem contato com vários aspectos seus e da suas relações que, talvez, mude sim, até a forma como vão se relacionar. Estamos percebendo que o relacionamento apenas através das mídias sociais não é satisfatório. Pai, mãe, filho, avós, todos queriam agora dar ou receber um abraço, mas não podem. A tecnologia pode ser algo muito bom, as mídias sociais podem ser muito boas, dependendo de como e para que a gente usa elas.”

Jacqueline considera que as mutações provocadas chegarão também ao setor imobiliário. “Esse lugar onde eu vivo, ele realmente me representa? Me acolhe? Me satisfaz? Ou escolhi morar aqui porque achei que me traria prestígio, valorização pessoal!”

“Eu mesma invejei as pessoas que, nesse período, moram numa casa com pátio, que podiam sair, cuidar do jardim, levar seu animalzinho para fora, pegar um sol na hora que quisessem, olhar para o céu.”

Para Jacqueline, uma das maiores lições que podemos tirar desse momento é o respeito pelas diferenças, mas reconhecendo e preservando o coletivo, que hoje pede, dramaticamente, nosso olhar solidário.

Foto: Divulgação

 

 

 

JÁ PENSOU NISSO?

As águas do arroio Luiz Rau correndo límpidas e tranquilas, com gramados, flores e bancos nas margens; sombras de árvores generosas protegendo crianças, adultos e vovôs numa tarde de sol. Viagem? Talvez, mas já parou para pensar que poderia ser possível? Ok, é um sonho complexo, difícil e demoraria bastante tempo para se viabilizar. Impossível, todavia, não é! Há exemplos de feitos impensáveis pelo mundo.

Cheonggyecheon, em Seul. Revitalizado após quatro décadas escondido.

Que tal, então, ter locais de descarte bem conhecidos, acessíveis, amigáveis, para aquelas coisas que a gente nunca consegue excluir das nossas vidas da forma como  deveria? Têm ideias transformadoras por aí, muitas isoladas aqui e ali, mas que um olhar mais esperto e interessado é capaz de enxergar. De fotografar. De compartilhar. De escalar.

Nosso projeto, a partir de agora, vai envolver você diretamente. O propósito é botar as cabeças pensantes da cidade para funcionarem a favor de Novo Hamburgo. Você é uma delas. Senão, já teria largado a leitura deste texto nas primeiras linhas. Aliás, já pensou viver num lugar borbulhante de ideias? E se esse lugar ficasse bem aqui, na sua cidade? Na nossa cidade! Já pensou?

Num mundo de possibilidades, algumas soluções gritam, causam furor, como o High line, em Nova York. Uma linha elevada de trens, um minhocão abandonado, foi transformado num jardim suspenso, um parque que iniciou e se expandiu a partir da rua 12 e hoje vai até a rua 30, atraindo e encantando gentes de todos os cantos. Lá atrás, deve ter parecido uma ideia insana. É daí? Olha ela aí, valorizando a cidade!

High line, Nova York. Minhocão abandonado virou o parque da hora.

Outras propostas só querem o direito de influenciar o desenvolvimento de hábitos saudáveis com o meio ambiente e com a sociedade. Passeando pelas praias da costa leste da África, você pode se deparar com esculturas coloridas de elefantes, javalis, rinocerontes, leões e girafas, algumas em tamanho real, feitas com chinelos de borracha velhos encontrados no mar.

É Negócio? Confira
Jorge Trenz
A transformação desses materiais em peças de arte e moda é ideia da empresa Ocean Sole. Com sede em Nairóbi, capital do Quênia, o negócio reaproveita sandálias velhas e outras peças de borracha encontradas nas praias do país. O resultado do trabalho são criações lúdicas que chegam a ser vendidas para jardins zoológicos, aquários e lojas de nicho de 20 países.

Em Seul, o Cheonggyecheon, um riacho que ajudou a cidade a controlar as enchentes, foi esgoto a céu aberto, separou ricos e pobres, foi aterrado e escondido debaixo de um viaduto por quase quatro décadas, foi resgatado. Em 2005, através de um oneroso e intenso projeto de revitalização urbana, teve sua importância histórica e cultural restaurada. Hoje é um dos cartões postais de Seul, ponto de encontro dos seulitas e um exemplo a ser seguido.

Outra iniciativa bacana são os ‘ruin pubs’. A ideia partiu da oportunidade de muitos prédios estarem deteriorados e abandonados pós-comunismo. Jovens empreendedores assumiram a administração destes edifícios a custos baixíssimos, proliferando a modalidade de ruins pub pela cidade – atualmente são mais de 20. E o modelo foi “copiado” com pubs em ruínas por outras cidades da Europa.

Ruins Pubs, Budapeste. Prédios do pós-comunismo viraram bares da moda.

Nós viajamos, nós fazemos negócios pelo país e pelo mundo, nós queremos ter orgulho da nossa casa. Então… Se a gente começasse a olhar por ai com mais atenção e iniciasse um banco de sugestões para aprimorar nossa cidade, nossas relações sociais, com o meio ambiente, com o próximo? Já pensou nisso? Acha que poderia dar certo? Pois estamos pensando nisso também.

Colaboração: Cinara de Araújo Vila – Procuradora do Município de Novo Hamburgo

Fotos: Divulgação

 

É MEU SOBRENOME

Tivemos famílias tradicionais que influenciaram nossa cultura, nossas relações sociais, nossa indústria, nosso comércio e nosso desenvolvimento. Como praticamente todos os lugares do mundo. Seus nomes e sobrenomes batizaram ruas, praças, espaços culturais, entre outros. Em certos momentos, o sobrenome valia mais ou falava mais alto do que qualquer atributo.

Família unida, os Trentin já têm representante da nova geração.

Ernesto Trentin, por sua vez, batizou com seu sobrenome uma padaria no bairro Canudos. A mesma que hoje tem endereço na Mauricio Cardoso, uma das avenidas mais cultuadas de Novo Hamburgo. Saiu de São Francisco de Paula em 1978, veio para cá e trabalhou por 10 anos como vendedor externo da Johann Alimentos. Ali, fez amizade com um rapaz que vendia massas e biscoitos da Coroa, marca renomada da época.

A história da Trentin começa a se delinear num trágico Natal. Ernesto e os irmãos empregavam o tempo livre construindo uma casa nova para a família. “Morávamos numa meia-água, de duas pecinhas, no fundo do terreno. Já tínhamos uma filha, a Kelly. Naquele Natal, um vendaval varreu Canudos e derrubou a casa”, recorda a esposa, Zaida.

A boa exposição dos produtos tem como objetivo facilitar o atendimento para o cliente.

Sem dinheiro para reconstruir, Ernesto precisava arrumar urgente outra saída. Descobriu uma ação promocional de apartamentos sem entrada. Era o Residencial Mundo Novo. “Comprei um apartamento, vendi o terreno onde seria a casa. No mesmo período, colocaram para alugar um peça onde funcionava um mercadinho. Com o dinheiro do terreno, conseguimos montar um botequinho lá”, orgulha-se. A veia empreendedora é uma característica do pai, afirma a filha Franciele. 

É Negócio? Confira
Jorge Trenz
Alugado o ponto, precisava abastecê-lo. Conta que foi direto falar com seu amigo: “- Estou abrindo um mercadinho e preciso que me forneça massas e biscoitos. Ele foi visitar o espaço e pensou: “- Esse cara não vai conseguir me pagar.” Mesmo assim, encheu a loja com seus produtos. “Foi assim que começou o nosso negócio”, diz.

Com trabalho, conseguiram mudar para um espaço maior, na outra esquina. Foi só então que Trentin se desligou do emprego. “A gente fez o mercado com padaria. Mas achei logo que aquilo lá era muito pouco. Ai tinha essa padaria aqui na Maurício, que era do meu cunhado. Ele tinha outras duas e não dava conta. Eu comprei a padaria dele, vendi o mercado para o meu irmão, tudo negociado sem dinheiro algum. Só na promessa.”

“Aqui se chamava 2001. Decidi mudar o nome… trazer o meu Trentin de Canudos para cá. Quando estavam mudando a placa, uma senhora chegou e disse:

“- Mas que nome é esse aí? Isso é nome de padaria?” Respondi a ela: “- Trentin, senhora. Trentin é nome. É meu  sobrenome.”

Trentin Maurício Cardoso: localização privilegiada e ambiente pensado para o seu público-alvo.

A filha Franciele diz que o pai é tão inquieto que quando estabilizou a Trentin da Mauricio já assumiu a Casa de Carnes Fronteira. A outra filha, Regina, que gerencia o negócio, emenda: “Era um mercado pequeno e ele resolveu renovar o ponto. Modificou toda a Casa de Carnes, reformou tudo e hoje já é referência. É um pronto socorro que tem tudo!”, diz ela.

Sob o olhar da família Trentin, Hamburgo Velho é um excelente lugar para empreender. Mas a falta de estacionamento complica um pouco nas redondezas de onde estão. Em compensação, acham que sobra calor humano e bons relacionamentos.

Fotos: Divulgação

 

VENDEDOR DE SAUDADES

Ah, o tempo! Este senhor cheio de marcas e de histórias, que guarda lembranças de quase tudo nas suas dobras, conserva algumas delas no Armazém Hamburgo Velho, sob os cuidados do Paulo Alexandre Stoffel, um eletrotécnico de formação, que com o andar dos anos, foi se transformando num guardião de antiguidades.

Paulo Stoffel: a paixão herdada dos pais por objetos antigos, transformou o sentimento em negócio.

A transição deu-se lentamente. O pai, taxista, quando se aposentou, passou a percorrer o interior do estado num Fusca. Na companhia da mãe, garimpava peças antigas interessantes. “Eles traziam muita coisa e ali eu comecei a gostar do assunto. O Fusquinha vinha atolado de velhas novidades e, muitas vezes, um caminhão carregado os seguia até em casa”, lembra.

Aquilo foi aos poucos se tornando um negócio. Conquistaram clientes em Novo Hamburgo, Porto Alegre e de outros lugares. Em Novo Hamburgo, os irmãos Paulo e Pedro Scherer eram clientes especiais e compravam bem. De Porto Alegre vinham antiquários que já sabiam que o casal saía na segunda-feira de manhã e só retornava sexta à tarde. o sábado, estavam cedinho batendo na porta para ver o que tinha de novo.

“Eu não era um restaurador. Na verdade, era um recuperador. Ganhava algumas peças dos meus pais e as consertava. Passei a maior parte da minha vida trabalhando como eletrotécnico. Tinha na antiguidade um complemento de renda e um hobby. Há 3 anos estou me dedicando exclusivamente às antiguidades. É uma atividade muito prazerosa.”

O Armazém Hamburgo Velho trabalha com móveis, objetos antigos e artigos de decoração a pronta entrega.

Mas o Armazém já tem mais tempo. O empreendimento nasceu há 10 anos, no Centro Histórico de Hamburgo Velho, em consequência da instalação da clínica da esposa Neusa, que é nutricionista. “Ela não queria ocupar a parte da frente por causa do barulho, do movimento do trânsito.  Sobraram dois ambientes e aí ela teve a ideia de abrir um armazém, com alguns produtos vinculados ao trabalho dela.”

Com a loja aberta e de cara para rua, o gosto pelas antiguidades falou alto e Paulo passou a exibir algumas peças aqui e ali. Os clientes passaram a se interessar, querer, comprar. “A reação das pessoas quando entram no Armazém é o que me faz feliz. Algumas se emocionam vendo algo que remete à sua infância, traz recordações familiares, do lugar onde viveram… A Neusa costuma dizer que “o nosso produto é a saudade.”

Nesse ramo, afirma, é preciso ter percepção, sensibilidade. O termo antiguidade, no seu entender, relativizou-se bastante. Paulo diz que hoje em dia tem muito colecionador, tem muito captador. “O pessoal acha um telefone celular de 15 anos e diz: – Olha, isso aqui é antigo!”

Localizado no bairro histórico de Hamburgo Velho o espaço se transformou num local para garimpar peças antigas.

“Meu objetivo é me aproximar cada vez mais daquilo que realmente tem procura nesse nicho de mercado, encontrar um ponto de equilíbrio porque aqui, ainda estamos bastante diversificados, tem de tudo. Mas a intenção é ser mais focado num determinado tipo de antiguidades”, afirma.

Com relação ao bairro Hamburgo Velho, Paulo diz que é um bom lugar, mas para empreender, precisa avaliar bem o que se pretende. “Nós gostamos de estar aqui, mas é um bairro de passagem, não tem movimento de transeuntes, de pedestres na rua. É um centro histórico com vários locais para visitação. Apesar disso, não é um lugar onde as pessoas costumam parar para olhar alguma coisa.”

Fotos: Divulgação

NÃO JOGUE IDEIAS NO LIXO

Nosso projeto para 2020 é inclusivo, ambicioso e a sua participação é crucial. Seja atuando diretamente ou divulgando, falando para os seus amigos que estamos construindo um time de garimpeiros hamburguenses para encontrar ideias e ações bacanas por aí, que poderiam servir pra melhorar nossa vida aqui, já é uma contribuição e tanto.

Cidadão do mundo. Fernando Walter e a esposa Sulmara.

O mundo está cheio de ideias interessantes. Queremos reunir centenas, milhares delas – sempre pensando em Novo Hamburgo – num único banco. É um processo colaborativo entre pessoas que viajam, veem o universo com curiosidade e têm carinho e expectativas com o futuro da nossa cidade.

Algumas sugestões poderão interessar ao poder público; outras, despertar um insight em empreendedores, gerar negócios, empregos, cultura, diferenciais que nos empurrem para frente, que instiguem nossos cérebros mais privilegiados a buscarem desafios novos; muitas ideias servirão apenas para mostrar como o ser humano é sensacional nas suas criações. Mas só isso, já vai valer a pena.

Um exemplo? Albi , uma comuna na região de Occitânia, no interior da França, é onde reside Fernando Walter, hamburguense nascido em Lajeado, que percorre o mundo representando o segmento calçadista. Em Albi, descarte e coleta de lixo têm combinações sociais.

Coletor exclusivo para vidros, em Albi, França. A população retira tampas e rolhas antes de descartar os vidros aqui.

“Começa que todo lixo é separado antes de ser descartado, pelo gerador do lixo, em casa. Isso é norma compreendida e aceita. Orgânicos, plásticos, longa vida, papéis, cada material no seu devido lugar. Tem um aviso nas tampas das lixeiras para não colocar vidros, e fotos dos dejetos que podem ser descartados.

Para os vidros existe um processo racional e eficaz. Há coletores especiais colocados a cada 500 metros – dependendo da região – sempre próximos a locais de aglomeração de pessoas ou condomínios. “Ali depositamos todo e qualquer vidro, lembrando que é para vidros, não tampas ou rolhas.” Detalhes que fazem toda diferença: tampas e rolhas, NÃO!

A grande sacada destes coletores, inicialmente, foi reduzir acidentes com os trabalhadores, que machucavam-se muito. Mas resultou, também, em outras economias entre os ciclos de coleta e reciclagem, tornando o vidro – uma embalagem higiênica e mais limpa para o meio ambiente – mais barata. “Quando as pessoas atuam juntas, o benefício ou o malefício acaba voltando”, afirma Fernando.

Educação e comunicação para otimizar a separação do lixo.

Há também, nesta cidadezinha que preservou suas construções medievais, mas não parou no tempo, lixões para descarte daquilo que não é do dia a dia, como sofás, malas, ou eletrônicos, diz Fernando. “É o povo que leva o material até lá e separa, jogando plástico, madeira, isopor, cada coisa no seu lugar. Isso acarreta em economia para a prefeitura, que pode cobrar menos impostos ou fazer mais investimentos.”

Alternativas do tipo encontram-se em diversos lugares, com fórmulas adaptadas às necessidades de cada comunidade. E quando a gente vê algo assim, não pode esquecer, deixar para lá, descartar. Elas podem resultar em grandes avanços para nós. Então, que tal reunir tudo num único lugar? Um lugar que não é o lixo das ideias. É o canteiro a partir do qual elas poderão florescer… Em breve, todos que nos acompanham saberão como participar.

Fotos: Fernando Walter