A SORTE BATEU À PORTA

Este relato é de um tempo em que a Pedro Adams Filho se chamava Sete de Setembro. Eu também não sabia disso! Foi lá pelos anos de 1948, conta Paulo Beck, da Bombas Beck. “Mudamos de Hamburgo Velho – onde nasci – para aquela avenida com duas pistas de basalto rosa. Tinha 8 anos.”

O pai era dono de uma pensão, que depois se transformou no hotel Beck. Ficava no primeiro edifício de Novo Hamburgo, construção de propriedade do Dr. Casemiro, um médico que virou personagem importante da história da nossa cidade. O hotel recebia até 50 hóspedes. Paulo recorda que, de segunda a sexta-feira, serviam a média de 250 completos. “O bife tapava o prato e, naquela época, quem podia comia um completo.”

Atualmente a linha de produtos da empresa envolve mais de 200 modelos de bombas,

Ele me conta que ainda eram crianças, mas já ajudavam a servir os clientes. A mãe trabalhava na cozinha, com outras cinco mulheres e um senhor – o foguista. Ocupava-se com rachar a lenha e colocar no fogão para mantê-lo sempre aceso.”

No hotel, também vendiam bilhetes de loteria. Os que sobravam tinham que retornar a Porto Alegre no dia e o encarregado de levá-los até a rodoviária era o Paulo. Numa tarde, ficou brincando um pouco mais com os engraxates no centro e perdeu o horário. “Meu pai precisou ficar com todos os bilhetes e pagar por eles. Tomei uma surra! Mas a sorte bateu na nossa porta. O prêmio maior saiu justamente para um daqueles bilhetes.”

Com 11 anos de idade, Paulo e o irmão Ivo foram obrigados a sair de casa e ir viver com parentes. A irmã mais velha fora acometida pela tuberculose – uma das primeiras contaminadas na região – e os dois precisaram ser afastados da família. Paulo foi morar na casa de um tio em Esteio, e o Ivo, em Pareci.

“Meu tio tinha a RWH Bombas e me encantei com o que se fazia num torno mecânico. Para mexer nele, entretanto, eu precisava antes varrer a oficina, limpar os banheiros e só então podia usar um equipamento velho que tinha lá. Com 12 anos já fazia todos os tipos de rosca, ensinado pelo seu Koch, um alemão que veio no pós-guerra e foi meu grande professor.”

Paulo lembra que o alemão era enérgico com os guris que estavam aprendendo a profissão. Pisava em cima dos dedos dos pés dos mais arteiros com seu tamanco. Como era um menino dedicado e que andava na linha, nunca sofreu tal castigo.

2 anos após a drástica e repentina mudança de endereço, eis que chegou a Penicilina. A irmã foi curada – uma das primeiras também a receber o tratamento – e puderam reunir-se todos novamente sob o mesmo teto.

“Voltei para Novo Hamburgo já com carteira de trabalho e fui trabalhar no Copé. Para mim, a maior faculdade da vida. Em 1961, na Legalidade, prestei o serviço militar. Após o quartel,  voltei a trabalhar com meu tio em Esteio, fazendo vários tipos de bombas.”

Com a experiência adquirida no Copé, pretendia fazer mudanças na empresa, que facilitariam muito a montagem e produção. Mas o tio não aceitou, achava que estava bom da maneira que faziam. ”Eu pensei: – Ok, um dia vou montar a minha empresa e fazer diferente.”

Não demorou, voltou para a cidade. Trazia uma boa reserva dos trabalhos extras dos finais de semana. “Saía nas sextas-feiras de tarde de táxi-aéreo para instalar bombas nas fazendas. Numa dessas, fomos para Santana do Livramento num avião da Varig. Chegando lá, não desceu o trem de pouso. Precisamos voltar para Porto  Alegre. Nossa sorte foi que, em Guaíba, o trem de pouso desceu. Até hoje, quando viajo de avião, lembro daquele fato.”

Avançamos alguns anos na história, até o surgimento da Bombas Beck, em 1967. “Soube que o Copé tinha um torno antigo pra vender. Comprei e ganhei toda a ferramentaria. O pai cedeu um galpão de 25m² e foi ali que meu irmão e eu começamos.”. Nossa mãe também nos ajudou muito e as dificuldades foram enormes. Quando precisava, ela ia até São Leopoldo de ônibus buscar 250 kgs de peças fundidas por cada viagem divididas em 10 sacolas.

Para fazer os moldes das bombas no torno mecânico necessitavam de muita energia elétrica. “Como tínhamos somente monofásica, a solução foi a nossa lambreta. Adaptamos uma polia e deixávamos ela ligada. Era brabo, mas resolvia o problema” – conta entre boas gargalhadas.

“Eu tive sorte também por poder contar sempre com o apoio da minha esposa Suzana e dos meus 2 filhos, Alexandre e Alessandra. Desde pequenos eles estiveram comigo, dando duro. São eles que tocam o negócio atualmente.”

A Bombas Beck é pioneira na fabricação de bombas para tratamento de água e vende para o Brasil e exterior. Os principais clientes são grandes indústrias e prefeituras. Pra encerrar , perguntei para o Paulo sobre o bairro Ideal. “É um lugar de muito progresso. Eu não troco por nada desse mundo.”

 

 

 

UM FERREIRO PARA FAZER SAPATOS

Pedro José Schwab é natural de linha Marechal Floriano, mais conhecida como  Arroio Augusta Alta, no município de Roca Sales/RS. Sonhava ser padre e nisso teve apoio do pároco local, que o trouxe para o seminário São João Maria Vianey, em  Bom Princípio, onde fez o primeiro ano ginasial, concluindo o ginásio no seminário Colégio São José, em Gravataí. Com 10 anos de idade ele fez o exame de admissão. Cursou até a quarta série ginasial e desistiu. Não queria mais ser padre.

Pedro Schwab: quando se tem um objetivo, deve-se ir à luta.

“Voltei pra casa e disse que desejava fazer o científico e ser engenheiro. O pai não discordou: – Vai à luta, consegue tua vaga!” Com 14 para 15 anos, Pedro ingressou no Colégio Estadual Castelo Branco, em Lajeado, para perseguir seu sonho.

O pai, conta ele, era um agricultor próspero para a época, mas dinheiro não tinha, não. Só quando vendia uma chiqueirada de porco, uma safra de soja, aí ganhava um bom dinheiro, mas este precisava durar o ano inteiro. Fora isso, faziam escambo, tipo de comércio natural naqueles tempos.

“Eu ia na venda, levava ovos e trazia açúcar. Levava queijo, trazia erva-mate.  Acabou que precisei procurar serviço.” O primeiro trabalho foi de cobrador de rua. Auxiliava um senhor que cobrava os clientes devedores das lojas. Rapaz tranquilo, interessado, Pedro fazia amizades com facilidade e, com jeito, conseguia cobrar valores que já eram dados como perdidos pelos comerciantes.

Num dia de inverno, enquanto tomava um café, alguém puxou conversa: – Tu não és o Pedro, que faz as cobranças? Tenho visto que estás trabalhando bem. Não quer trabalhar comigo? Era o dono da loja ao lado da cafeteria, que continuou: – Além de fazer cobranças, vais ser balconista, ajudar a entregar refrigerador, instalar antena… Tu vais fazer de tudo, nós vamos te ensinar. “Era o que eu mais queria.”

Foi o primeiro emprego com carteira assinada, na única loja que vendia Brastemp na região, um diferencial e tanto. “Tinha sempre muito serviço e logo passei a vender muitas geladeiras. Quando concluí o científico, entretanto, precisava sair, porque ainda não havia faculdade em Lajeado.”

Veio prestar vestibular na Unisinos, passou e então foi morar em Porto Alegre, na casa de um tio. Para se manter, tentou emprego num grande banco, patrocinador de um programa de rádio que gostava de ouvir desde sempre, o Repórter Bradesco. “Eu pensava comigo… Um dia vou trabalhar nesse banco.”

Tinha o curso de datilografia, competência fundamental e indispensável, que a maioria dos leitores deve bem lembrar. Só que pra atrapalhar, tinha também a idade de prestar o serviço militar. Mesmo assim, foi até a agência do centro, onde o dispensaram de cara.

Telefonou então para o pai e perguntou: – Como está essa história de ir para o exército? “Ele disse para eu não me preocupar, que não iria servir. No outro dia, botei uma gravata cor de rosa, uma jaqueta de veludo vermelha, pois não tinha paletó, calça boca de sino para impressionar e voltei na agência do banco.”

Não é que conseguiu o emprego? Trabalhou muito, relembra, até ser indicado para chefe de departamento. E aí aconteceu de novo. Descobriu que não era o que desejava. “Eu queria a minha engenharia mecânica, que estava cursando na Unisinos.” Saiu do banco.

Em 1976, já morando em São Leopoldo, Pedro recebeu um  telegrama da namorada – hoje esposa. Ela pedia que viesse com urgência para Novo  Hamburgo. Tinha um emprego para  ele na Calçados Guilherme Ludwig, que ficava na Joaquim Nabuco, onde atualmente é o Itaú. “Eu não sabia fazer sapato, mas dominava a organização industrial. Na época, todo  mundo me olhava atravessado, como se viesse um ferreiro para fazer sapatos.”

Astucioso, conta que aliou-se ao programador da fábrica, conhecedor do processo sapateiro, para juntos organizarem a fábrica. “Conseguimos fazer o melhor ano produtivo da história da empresa.” A vida transcorreu, ele acabou indo para a Azaleia, mas quando a empresa definiu fechar a unidade de Novo Hamburgo, o desejo dele era permanecer na cidade. “Me deram a escolha: Parobé ou São Sebastião do Caí. Foi quando minha esposa me acordou: – Por que tu não abre uma coisa para ti?”

Nascia ali a Maguibeth. “Meu primeiro produto foi estojo para óculos. Passaram-se dois anos quando comecei a produzir para a Mundial, cliente há 22 anos.”

Para o Sr Pedro José Schwab o bairro Ideal é especial. “É um bairro maravilhoso, poderia ter ido para qualquer outro bairro, mas aqui estou perto de tudo! É onde me sinto seguro.”

 

 

 

HISTÓRIA EM CHAMAS

Entristecido eu fiquei com a notícia e as imagens do incêndio no casarão dos Friedrich. É, sem dúvida, um evento que só temos a lamentar, pois ali está vivificado um capítulo importante da história de Novo Hamburgo. Espero que os danos possam ser rapidamente recuperados e que o fato nos sirva de alerta para a atenção e o cuidado que precisamos ter com nossa história.

Casarão dos Friedrich: uma típica fazenda do período escravagista. – Foto/divulgação: Marcos Quintana.

O projeto Bairros de Novo Hamburgo e o MAC – Meio Ambiente Cultural – me abriram os olhos para a importância e a fragilidade daquilo que somos constituídos, que nos representa no tempo e espaço. Nas descobertas que fiz através das matérias para o Bairros de Novo Hamburgo eu soube que nossa cidade foi escravagista.

Sério, tivemos escravos em Novo Hamburgo e a área que concentrou a maioria deles, na época, chamava-se África. Hoje, conhecemos como bairro Guarani. O nome indígena vem de outro fato inusitado. Havia uma empresa de ônibus chamada Transporte Guarani e o coletivo tinha um cacique estampado na lateral.

O pessoal dizia: Vou pegar o Guarani. E, assim, o nome da empresa acabou batizando o bairro. Quem me contou esses eventos curiosos foi o o Zeca Martins, antes da entrevista que realizei com o filho dele e a esposa sobre o Guarani.

Para mim, foi surpreendente conhecer essa pequena parte da nossa história, agora abalada pelo incidente. Como o casarão, que precisa ser recuperado, temos outros prédios, monumentos e histórias que precisam ser preservadas.

PONTO DE VISTA

2021 E O MERCADO IMOBILIÁRIO

A pandemia nos afetou, mudou hábitos, trouxe incertezas, mas não conseguiu parar totalmente o mercado imobiliário. Percorrendo a cidade é possível notar muitas edificações novas ou em reforma. A construção civil andou mais lentamente, sem dúvida, como praticamente todos os segmentos, mas vem dando sinais positivos.

As perspectivas para 2021, do meu ponto de vista, são bem animadoras. Até porque houve um represamento na aquisição de imóveis e quando destravar, o cenário mudará bastante. Temos ainda outros componentes para corroborar esta expectativa. A Selic – taxa básica de juros da economia brasileira – está no seu menor patamar histórico. Assim, os juros dos financiamentos imobiliários também são os menores dos últimos tempos. A redução dos juros representa um desconto significativo nas parcelas de qualquer financiamento.

Outro ponto é uma provável migração do dinheiro de investidores para o segmento, já que os fundos mais tradicionais não estão rendendo como antes. Considero, ainda, que deveremos ter uma estabilidade de preços por ora e este é mais um fator de estímulo á compra.

Se você deseja adquirir um imóvel este é o momento certo. Até porque, temos um tempo de busca pela melhor alternativa, o compartilhamento com a família, análise de recursos que a decisão exige, ou seja, você não pensa hoje e compra amanhã. Existem muitas e variadas alternativas no mercado. A decisão consome um certo tempo e isso é assim mesmo. Principalmente se o imóvel em questão é para moradia.

 

 

UM SONHO NA GARAGEM

Ele não formou uma banda de rock, nem iniciou uma empresa de tecnologia na garagem, como as muitas que pipocaram no Vale do Silício. Mas foi no mesmo ambiente que Antoalci Francisco Pedro, o Chico, concebeu e estruturou a Peter Chemical. “Tinha um telefone, um fax, um sonho e uma garagem.”

O empresário nasceu em Mato Fino – limite do município de Gravataí com Lomba Grande. A sobrevivência da família exigia trabalho árduo e conjunto para manter o casal, seus quatro filhos e mais o avô. O pai tinha um caminhão e levava produtos para a Ceasa. O avô uma tafona, onde fazia farinha e, também, uma pedreira de extração de pedra grês.

O diploma do Curso de Datilografia fez a diferença na vida de Antoalci.

A vida seguia seu rumo normalmente mas um dia, ao chegarem em casa ele e a mãe, encontraram a casa totalmente consumida pelo fogo. Chico diz que deveria ter uns 3 anos de idade, mas a cena chocante nunca se apagou da sua memória. Reestruturaram-se com uma ajuda aqui, outra ali, e trabalho do nascer ao pôr do sol. “Passado um tempo o pai conseguiu adquirir um matadouro e, com 6 anos, eu já acordava de madrugada para ajudar a corear boi.”

Preocupados com o futuro e o estudo dos filhos, o casal decidiu mudar-se para Novo Hamburgo. “Eu já tinha 8 anos. Fui estudar na escola Salgado Filho. O pai abriu uma venda, que era como se chamavam os armazéns. Vendia de tudo, desde secos e molhados até querosene. Colocou o nome Para Pedro, porque queria valorizar o sobrenome da família.”

Chico ajudava no negócio e vendia picolés na rua para faturar um extra. “Como a família era do interior, tínhamos o hábito de ter horta em casa, plantar… E naquela época cultivávamo temperos. Pegava meu cavalo e saia a vender pelo bairro. Quando criança sempre tive cavalo. Atrás da nossa casa era campo aberto até a Viação Hamburguesa e tinha uma carreira reta. Competir nessa cancha era algo que eu gostava muito.”

As dificuldades eram imensas, relembra o empresário, que atravessava a área do parcão a pé para estudar no Colégio Pasqualini, usando apenas chinelos de dedo, tanto no verão como sob as rigorosas temperaturas do inverno. “Para poder ir numa excursão do colégio, fazia brigadeiros para vender entre os colegas mais abastados.”

A história do Chico me despertou duas reflexões, que confesso são recorrentes aqui: o trabalho não tira pedaços de ninguém, muito pelo contrário. O segundo pensamento remete ao seguinte: muitos desejam a posição ou os bens que outros têm, mas não estão dispostos a fazer ou passar pelo que os outros passaram. Quase todas as histórias que compartilhei aqui têm essa característica como pano de fundo. Dificuldade, lutas, trabalho e persistência para obter a vitória pessoal.

“Com 13 anos eu já trabalhava no almoxarifado de uma fábrica de calçados. Uma professora do Pasqualini, percebendo as dificuldades, indicou a mim e mais 5 alunos para uma vaga de estagiário no Banco do Brasil. Fui o escolhido por ter  o diploma do Curso de Datilografia, coisa que atualmente os jovens nem sabem o que é. Trabalhei no banco dos 14 anos até os 18, quando saí para servir o exército. O Pasqualini e o Banco do Brasil me formaram como cidadão.”

A decisão pela faculdade de direito foi tomada naquele período, e influenciada por um bancário do BB, que estava licenciado para  se dedicar à politica e voltou ao banco para dar uma palestra num evento da instituição. Chamava-se Américo Copetti, nome que ficou muito conhecido por aqui. “Além de advogado, era um excelente orador. Me encantou. E decidi naquele momento que seria advogado. Veja como as pessoas podem influenciar a vida de outras.”

Todavia, quis o destino alterar sua rota. Chico foi trabalhar na Artecola porque morava em Canudos e a proximidade do trabalho facilitaria muito para ir à faculdade. Após 13 anos como funcionário, decidiu montar uma empresa de especialidades químicas. “Tornei-me um distribuidor de produtos químicos, coisa que não existia em Novo Hamburgo. No mercado, percebi que havia um nicho de negócio, pois as matérias-primas não estavam aqui, e a maioria das indústrias locais desconheciam matérias-primas sobre as quais eu já tinha know-how.”

“Foi muito difícil. Sempre digo que a Peter Chemical começou com um telefone, um fax e um sonho na garagem de casa. Precisei ter muita resiliência, mas hoje a Peter Chemical tem 28 anos de existência. Em 2012 deixamos de ser distribuidora e passamos a operar somente como indústria. Vendemos para indústrias de transformação de todo o Brasil, a partir do Vila Rosa, um bairro maravilhoso da cidade, que está em franca expansão.

 

 

PAPAI NOEL, QUERO UM ANO NOVO

Temos aqui um distanciamento social que mais nos aproximou do que afastou. Através destas telas, cada um de um lado, nos encontramos semanalmente, há mais de 5 anos, sem problemas, sem medos, sem máscaras. Aos poucos, mais leitores foram se interessando nos nossos assuntos, se achegando, ampliando a turma que gosta de Novo Hamburgo, aprecia a cidade e suas histórias, que quer vê-la ascendendo, tratando bem suas comunidades, atraindo gente para trabalhar, conhecer, estudar e levar um pouco da gente para outros cantos do mundo.

Hamburguense, o nosso Papai Noel já percorreu dezenas de cidades brasileiras participando de uma campanha nacional, além do Natal dos Sinos deste ano na nossa cidade.

São tempos inesperados a nos desafiar. Mas mesmo pegos de calças curtas, como toda Terra, ouso dizer que nosso espírito está preparado para enfrentar e vencer mais esta etapa. Fomos forjados na lida, na luta, no desejo ser e ter mais e melhores condições de vida, de saúde, de segurança, de educação e de tantas outras coisas mais. Como consultor imobiliário, sou mais um entre tantos outros que acredita que se a cidade vai bem, todos iremos bem. Somos todos Novo Hamburgo. Sem nossos talentos, sem nosso trabalho, sem nosso crescimento pessoal não existe uma cidade interessante, atrativa, valorizada.

2020 foi cruel, mas vamos deixá-lo de lado agora. Não vamos convidá-lo e nem deixá-lo entrar nas nossas casas nestes tempos em que celebramos a vida, a família, as conquistas e as bençãos alcançadas. Estamos aqui, vivos, podendo lutar e realizar. Podendo enfrentar e vencer e comemorar logo ali. Cuide-se. Proteja sua família. Proteja sua comunidade. Não deixe nada estragar a festa, mesmo que seja uma festa remota.

Acredite em você, acredite em nós, acredite que Deus está vendo tudo que fazemos. Acredite até no Papai Noel, que não vai marcar presença física como sempre fez, mas que precisa presentear o coração das nossas crianças com esperança de dias melhores. Elas são nosso futuro e eu, no momento presente, quero voltar a ser como elas e deixar aqui, para ele, o Papai Noel e o Papai do Céu, meu pedido público: quero um ano novo.

Foto: Clóvis Vijales como Papai Noel – arquivo pessoal

O CAMINHO DA BOA VONTADE

“Deus nos envia ao mundo por um gesto de amor e humanidade. Ele quer a felicidade do ser humano.” Assim, a mãe transmitiu a educação e formação de cada um dos filhos. Era também a visão do seu pai, orgulha-se o Sr. Paulo Justen, que trilha a estrada da vida ao lado do filho Angelo, no comando da Justen Serviços Contábeis.

Paulo e Angelo trabalham com o intuito de personalizar cada vez mais o atendimento ao cliente.

Ele sobreviveu a situações que nos dias de hoje, certamente, seria lhe recomendado a ajuda de um profissional de psicologia. Nasceu em 1947, já sem o pai, que faleceu quatro meses antes dele vir à luz. Uma semana após a fatalidade, a mãe, grávida e chorando ainda a precoce viuvez, perde também o filho de 7 anos, outro irmão da família, pelo mesmo motivo: a peste do Tifo.

“Na época, a vida de muitas e muitas pessoas era desgraçada pelo Tifo, doença que hoje já nem se ouve falar, mas que naquele tempo era mortal.” A vida, entretanto, sempre acaba seguindo seu rumo e cada um de nós, que teve a graça de ser escolhido para viver uma história.

“Eu vivi até os 7 anos de idade dentro do Hospital Regina com meu outro irmão, que tinha um ano e pouco mais do que eu, porque nossa mãe não tinha para onde ir. Ela e o pai trabalhavam juntos na chácara das Irmãs, no bairro Canudos.”

Com o falecimento do pai, Dona Anna foi trabalhar na cozinha do hospital. Os guris,  viviam ali, livres, leves e soltos no ambiente hospitalar, algo impensável nos nossos dias. “Como minha mãe precisava trabalhar na cozinha, quem cuidava de nós eram,  as Irmãs, todas sempre de olho. Nós fomos privados da existência do pai vivo, mas sempre acreditei que temos felicidade quando temos boas lembranças. E nós as temos.”

“Quando chegou o momento da escola, fomos encaminhados para o Colégio São Jacó, na época dos Irmãos Maristas. É onde está hoje o Campus I da FEEVALE. Neste local fiz minha formação para vida. Após o Ginásio ingressei na  Escola Técnica Comercial São Jacó, que tinha se transferido para o Pio XII levando o mesmo nome. Foi onde concluí o Curso de Técnico em Contabilidade. “

Durante o curso, trabalhava no escritório de contabilidade Irmãos Cassel Ltda, junto com uma pessoa especial, Nilson Cassel, já falecido. “Foi como um irmão para mim, pois me ensinou e, com ele, direcionei a minha profissão, que exerço até hoje. “

Em 1972, Paulo formou-se em Ciências Contábeis pela Unisinos. A partir dali passou a atuar, qualificado como Contador, como autônomo, exercendo o seu trabalho, para diversos clientes. Ele destaca a  Carburgo e a agência de veículos Chevrolet de São Leopoldo.

No final de 1972, assumiu a Secretaria da Fazenda de Novo Hamburgo, a convite do então prefeito eleito, Miguel Henrique Schmitz. Sem envolvimento nenhum com política, aceitou o desafio permanecendo no cargo por todo o período de  governo. “Foi um período muito gratificante para minha vida profissional”, diz.

Quando retornou para a atividade privada, passou a prestar seus serviços para a empresa Reichert Calçados, de Campo Bom, em 1977. “Permaneci lá até 2014. Embora a empresa tivesse encerrado as atividades na área do calçado em 2007.

Foram mais de 40 anos de trabalho gratificante, relembra o Sr. Paulo Justen.

Em todo este tempo,  ainda lecionou no Pio XII e na Feevale, completando 28 anos na área do ensino, tempo que lhe proporcionou muita experiência e conhecimento, principalmente, em relação a vida das pessoas. “Algo que o dinheiro não paga, mas de muita responsabilidade.”

“Em 1997, meu filho Angelo, que também já atuava na área de contabilidade, sugeriu que abríssimos um escritório físico, juntamente com outro colega, Astor Inácio Heberle, que permaneceu como sócio durante longo período. Continuamos bons amigos até hoje.

Na empresa, pai e filho trabalham com o intuito de personalizar cada vez mais o atendimento ao cliente, para dar a segurança que ele precisa para continuar empreendendo. Com relação à cidade, Paulo diz: “Precisamos continuar gostando de Novo Hamburgo e trabalhar por ela. Cada bairro fazendo a sua parte. Estou completando 57 anos de trabalho em janeiro vindouro.“

FEZ QUE FOI, MAS NÃO FOI

Nosso propósito aqui é falar de coisas boas, de conquistas, de futuro, de esperanças, de uma cidade melhor. Nem sempre vai ser possível, é claro. A vida não é feita só de felicidade, como bem expressa Wander Wildner, compositor e músico gaúcho, numa de suas canções, onde diz: “- Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro.” Só que nessa letra ele se refere ao individual. E o assunto entre nós é na maior parte do tempo o coletivo, porque todos somos e formamos Novo Hamburgo.

A prevenção está em nossas mãos.

Estou triste, e tenho certeza que você também, com o rápido retorno da nossa comunidade à bandeira vermelha no controle da pandemia. Temos que fazer negócios, claro. Temos que produzir, certamente. Temos que conviver com outras pessoas, lógico. Mas ignorar os cuidados, descumprir os protocolos, fazer pouco caso da ciência, é um tanto desanimador. Não é só aqui, fique muito claro! Mas aqui é o lugar onde eu vivo e onde quero sempre o melhor.

A Covid, como boa parte dos males que afligem o mundo, é traiçoeira. Fez que foi, mas não foi. Só que sua máscara caiu na Europa e em outros cantos do mundo antes dela desembarcar aqui. E deixar-se envolver por um filme já visto, convenhamos, não nos representa. Não condiz com aquilo que fomos e que queremos ser.

Novo Hamburgo não vai acabar, o mundo não vai acabar. Mas teremos que retroceder, todos, outra vez. Será que estas dificuldades vão nos ensinar coisas que já deveríamos ter aprendido? Ou teremos que repetir de ano, como um aluno que não entendeu a lição? Espero que não.

Perdoem essa abordagem, mas foi necessária. A responsabilidade não é só minha, não é só tua, do poder público, mas é do teu vizinho também, dos pequenos negócios que querem se manter abertos, das lideranças que prometem ajudar e cuidar das pessoas, das empresas que mantém a economia de pé. Fazer de conta que ajuda, não ajuda nada e nem ninguém. Vamos à luta. De verdade.

 

 

 

 

 

 

TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES, PROFESSOR DE LÍNGUAS E DELEGADO

Ele é natural de São Lourenço do Sul, formado em Letras e Direito. Tarcísio Lobato Kaltbach foi Mestre de Obras, professor de Língua Portuguesa e Língua Francesa, em cursos preparatórios para concursos e na ACADEPOL (Academia de Polícia Civil do RS) e é o Delegado da 1ª DP de Novo Hamburgo. Ingressou na Polícia Civil em 2004, em Flores da Cunha, onde também conheceu a esposa. De 2005 até 2013 foi Delegado de Polícia plantonista e Titular da 2ª Delegacia de Polícia em Caxias do Sul e, há 7 anos, trabalha e vive com a família em Novo Hamburgo, pertinho do trabalho.

Delegado Tarcísio: é importante que a vítima não se coloque na condição de vítima.

“O desafio de qualquer gestor da segurança pública, independente da instituição que represente, é manter um vínculo muito próximo com a comunidade para que ela, independente dos crimes que aconteçam no município, lhe traga informações. Não se faz um trabalho sozinho na segurança pública”, afirma.

É um trabalho complexo ter a comunidade a favor das forças policiais. Não é fácil entender o mecanismo de funcionamento da nossa legislação e ainda mais aos olhos de quem não a opera. Quando uma pessoa é presa, ele  exemplifica, a família do preso cria restrições com a polícia. Quando uma pessoa não fica presa, seja porque não cabe prisão ou porque paga a fiança, a própria vítima se sente desprotegida. “Não é que a polícia civil queira soltar ou prender esse ou aquele, apenas obedecemos a Legislação Processual Penal. “ Em função destas e outras situações, o gestor precisa envidar esforços contínuos para criar e estreitar laços com a sociedade.

Tarcísio é enfático ao dizer que não se faz um trabalho sozinho na segurança pública. “É fundamental aproximar os órgãos de segurança e da Justiça entre si (Ministério Público, Poder Judiciário, Polícia Civil, Guarda Municipal, Brigada Militar, Polícia Rodoviária Estadual e Federal, Susepe e IGP) ou seja, estabelecer canais de comunicação entre todos os representantes destas Instituições, cada um, obviamente, respeitando a sua missão constitucional, em conjugação de esforços. “

Novo Hamburgo  figurava entre as 18 cidades mais violentas do estado até pouco tempo atrás e tivemos resultados muito bons na redução de alguns crimes. Perguntei  como foi possível. “O governo do Estado, após um profundo estudo sobre o tema, elencou 4 indicadores criminais para nossa cidade, ou seja, os pontos críticos que deveriam ser enfrentados: homicídio, roubo a pedestre, roubo de veículo e roubo a estabelecimento comercial. Efetivamente, conseguimos baixar todos, significativamente.” O delegado reforça que isso foi possível com trocas de informações, setores de inteligência das instituições se conversando e implementando ações e operações na rua.

Quero saber se as pessoas que pretendem morar numa casa podem voltar a sonhar com isso sem medo. “ Uma cidade mais segura para morar, volto a dizer, é um trabalho conjunto, contínuo, persistente, duradouro e com apoio da comunidade. Tudo o que nós estamos fazendo, cada operação na rua cria uma sensação de instabilidade para o delinquente. Mas o cidadão de bem também deve estar atento e vigilante. Muitas pessoas acabam sendo vítimas por descuido mesmo. Um morador que abre o porta-malas, descarrega compras de seu veículo falando no celular é uma vítima em potencial. Ela está dando uma causa para um furto, um roubo, um sequestro relâmpago, eventualmente a um latrocínio. Isso a comunidade precisa entender. É importante que “a vítima não se coloque na condição de vítima”.

É preciso estar atento até nas ruas das cidades mais seguras do mundo.

 

 

COMPRO FERRO VELHO, OSSO E VIDRO QUEBRADO!

Certamente, muitos que, como eu, residiam em casas há umas cinco décadas, lembram do apito do afiador de tesouras e do anúncio cantado do comprador de ferro velho. “- Compro ferro velho, osso e vidro quebradooo!…” O que faziam daquilo a gente nem imaginava. Mas os empreendedores – sempre eles – anteviam o valor da reciclagem e já transformavam aqueles materiais em sustendo e em negócio. Neste meio, criou-se o empresário João Sampaio, que depois teve o apoio e até hoje tem a confiança da Gerdau. Atualmente, a Sucatas Sampaio recolhe material em toda região metropolitana, Vale do Paranhana e serra.

João Sampaio: tudo começou com uma carroça e um cavalo.

“ – Meu pai, embora não soubesse ler e mal sabia escrever seu nome, era um homem muito inteligente, um empreendedor nato.” A família mudou de São Jerônimo para Minas do Butiá quando João tinha 10 anos. Lá residiram por seis anos. “- Meu pai subia a serra para comprar galinhas e produtos coloniais para revender em Butiá. De lá, viemos para Guaíba, viajando numa carroça de 4 rodas. Saímos às 7 horas da manhã e chegamos de noite”, conta.

A necessidade, para a grande maioria, talvez fosse a única razão de enfrentar um trabalho duro como cortar arroz a foice nas granjas de Butiá. Mas o velho Sampaio sonhava alto. Empregava os músculos para realizar o sonho de subir na vida. “- Em Minas, o pai foi empreiteiro, chegou a contratar 100 homens para a lida nos arrozais. Em Guaíba, começamos a puxar lenha por metro, da Ilha da Pintada até a estrada, onde a carga era transferida para caminhões .”

Deus ajuda quem se ajuda e cedo madruga. “- Um dia apareceu um carroceiro comprando ferro velho, osso e vidro quebrado. Era uma festa para a gurizada e o pai disse: eu acho que isso aí dá dinheiro, filho! Junta tudo que temos aí e vamos levar direto no depósito. Passado um tempo, descobriu que o depósito que comprava em Guaíba, revendia em São Leopoldo. A partir daí meu pai reuniu todos os filhos e passamos a andar pelas ruas das cidades vizinhas da região, de carroça, comprando ferro velho, osso e vidro quebrado. Chegávamos a recolher 60 toneladas por mês. Vinha o caminhão de São Leopoldo e levava tudo.”

O esforço foi dando resultados, ampliando a visão, gerando novas possibilidades e questões para responder. Por que ter intermediários? Foi então que os Sampaio decidiram vender direto para a Gerdau. E conseguiram. Percebendo o potencial da família, um tio do jovem João que trabalhava com sucata em Novo Hamburgo convidou os parentes para também se instalarem na cidade, que se mostrava mais próspera. Muito apegado a Guaíba, o patriarca recusou. “- Em 1986 eu decidi que viria para cá, pois tinha muitas indústrias e  poderia ser melhor para o negócio.

“- Fiz como todos que vinham de fora na época. Fui morar na área verde, junto à RS 239. O pai e eu compramos um depósito que existia ali e lá me instalei. Passei a comprar dos carroceiros. O pai emprestava o caminhão dele para eu carregar no sábado e domingo e levar na Gerdau. Na segunda-feira, ele pegava de volta. Cheguei a fazer 27 carretinhas de empurrar com a mão e dava para a gurizada catar sucata pela cidade. De manhã cedo era uma gritaria da piazada saindo.”

Durante 12 anos o negócio funcionou nestes moldes e prosperou. Mas quem empreende não pode se acomodar. “- Resolvi fechar o meu depósito e comecei a comprar direto dos depósitos que existiam na região. Passamos a centralizar todo o material recolhido aqui no bairro Canudos. Decidi também parar de trabalhar com papel e vidro quebrado. Eu e meu funcionário carregávamos e descarregávamos umas 6 toneladas por dia, tudo à muque. Era sofrido demais, e precisei investir num caminhão. Tinha um carro que dei de entrada e a Gerdau me financiou um Mercedes à vista. Sonho realizado!”

Um dia, próximo do Zoológico em Sapucaia do Sul, o telefone do Sampaio tocou. Era o comprador da Gerdau, dizendo que a empresa queria que ele comprasse uma “garra” para agilizar o carregamento. “- Respondi que não poderia colocar uma “garra” num caminhão toco e ele então disse para ir atrás de um Truck. “- Vê o preço da garra, faz um orçamento e nos diga o valor que precisas.”

Trabalho, seriedade e competência conquistaram a confiança de uma empresa líder no trabalho de um pequeno empreendedor. O projeto de futuro do Sampaio é adquirir mais um caminhão e garra novos, totalizando cinco equipamentos, sendo quatro deles completos.

Pergunto se ele acredita em Novo Hamburgo. “- Acredito muito e sempre digo para a minha família.. Quando o momento está mais ou menos para Novo Hamburgo, da região que vim, estão matando cachorro a grito.”