O meio ambiente cultural será o pano de fundo para nossa nova incursão por Novo Hamburgo. Vem com a gente?

Quando se faz as coisas com amor, o universo conspira a favor. A prova está aqui, nesta nova abordagem que adotamos para olhar as coisas boas da nossa cidade. Em função do projeto Bairros de Novo Hamburgo – Jogando a favor do seu patrimônio, acabei por conhecer a Procuradora do Município de Novo Hamburgo, Cinara de Araújo Vila, que aceitou o desafio de me orientar na exploração deste belíssimo tema.

Existe um patrimônio cultural excepcional em Novo Hamburgo

“Este novo olhar dá continuidade ao que já vinha sendo produzido, afirma Cinara. “Quando me deparei com as matérias sobre os bairros, percebi nelas esse aspecto cultural, que bem demonstra o modo de viver no bairro, o que era feito e produzido, quais os afazeres e costumes, as práticas e as experiências de vida dos moradores.

Cinara de Araújo Vila é procuradora do Município de Novo Hamburgo 

O meio ambiente cultural é, para mim, uma expressão nova. Acredito que para boa parcela dos meus leitores também. Cinara explica: “Veja assim: a moradia é um direito fundamental de todos. Mas não é simplesmente a moradia que deixa uma pessoa feliz. É uma moradia digna. Afinal, estamos todos aqui para sermos felizes. E para termos a felicidade como alicerce da nossa existência, a base é o lugar onde moramos. Ele precisa ter a nossa cara, ser o reflexo de quem ocupa o espaço e, por isso, a nossa casa é feita conforme os nossos gostos, assim como o bairro, a cidade, o estado. São porções que expressam o que nós somos.”

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 O assunto é riquíssimo e estou bastante motivado. Conforme me explicou a Cinara,o meio ambiente cultural é a expressão máxima da nossa personalidade. “Ele envolve tudo que diz respeito ao aspecto relacional com aquilo que nos é mais caro: nossa família, nossos amigos, nossa casa, nossa cidade, nosso espaço urbano. Esse ambiente é construído com história, música, arte, cor, movimentos, modo de criar, fazer e viver.”

O meio ambiente cultural é a expressão máxima da nossa personalidade

Portanto, as obras, objetos, edificações, os espaços de manifestação artística, cultural, musical e social, bem como os conjuntos urbanos e sítios históricos – tudo que envolve memórias e histórias, tudo que conta quem somos e para onde queremos ir, faz parte deste ambiente que passaremos a explorar aqui.

O imaterial – o modo de viver das pessoas, os encontros, as amizades, a feira na pracinha, aquilo que é feito nos espaços físicos, mas que fica gravado na memória como uma expressão de sentimentos, emoções e marcos históricos também entra neste contexto e com muita força.

Perguntei para a Cinara quais características ela destacaria em Novo Hamburgo. Nas palavras dela: “Existe um sistema organizacional muito interessante e um patrimônio cultural excepcional. É encantador para qualquer visitante ver a quantidade de casas históricas em Hamburgo Velho, respirar a atmosfera de Lomba Grande, perceber os bairros cheios de vida e histórias no Município.

Há vários caminhos que poderemos percorrer. Posso afirmar, desde já, que será uma experiência interessantíssima para todos nós e gostaria muito de continuar contando com a sua parceria e audiência nesta nova jornada que estamos iniciando. Vamos lá?

Fotos: Marcos Quintana

 

 

 

 

PONTO DE VISTA: Omelete sem quebrar ovos. Como se faz?

Faz de conta! Ou não faz. Para fazer omelete tem que quebrar ovos. Para fazer reformas na casa, tem que quebrar paredes. Para fazer um centro praticamente novo é preciso quebrar e reconstruir muita coisa. Quase tudo. É o que está acontecendo no nosso centro, que vive plena transformação. Causando seus desconfortos, como qualquer obra. Pregando peças, dando prejuízo aqui e ali, como qualquer obra. Fazendo a gente pensar por que se meteu nisso! Como qualquer obra.

Afora as dificuldades causadas ao comércio, que não são poucas e, espera-se, serão temporárias; os transtornos no trânsito já sobrecarregado de Novo Hamburgo; e toda espécie de prejuízo na mobilidade urbana: do ponto de vista imobiliário, vejo uma valorização piramidal na área, assim que as obras começarem a ficar prontas. Como já ocorreu mundo afora, a capacidade de alavancar negócio de regiões revitalizadas vai ocorrer com o núcleo central da cidade.

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“Estudos de cidades do mundo todo elucidam a importância da vida e da atividade como uma atração urbana. As pessoas reúnem-se onde as coisas acontecem. Entre escolher caminhar por uma rua deserta e uma rua movimentada, a maioria das pessoas escolheria a rua cheia de vida e atividade.” Esta conclusão está no livro de Jan Gehl, Cidade para Pessoas. Revela mais:

“Estudos de posicionamento de bancos e cadeiras no espaço das cidades mostram que assentos com a melhor vista para a vida e o movimento são usados com muito mais frequência do que aqueles que não oferecem a visão de outras pessoas.” Ou seja, o comércio também tem que pensar em como melhor explorar as possibilidades de negócios advindas com esses novos ares.

As pessoas se inspiram e são atraídas pela atividade e presença de outras pessoas

Ter negócio, morar ou estar no centro vai valorizar o patrimônio. Ou melhor: já valorizou!

 

ELE VENDEU CARRO ATÉ PARA O CHICO ANYSIO. SEU APELIDO VIROU REFERÊNCIA EM AUTOMÓVEIS POR AQUI

Você já ouviu falar do João Narciso Ferreira Neto? Não?! E do Bagunça? Esse nome é conhecido por gerações de hamburguenses. Aos 82 anos, ainda cheio de vitalidade, o esposo da dona Ilasy Becker Ferreira é parte viva da nossa história. Quando chegou, trouxe o automobilismo, o Km de Arrancada, o entusiamo do Kart, que virou febre e criou mais de 20 kartistas na cidade. Foi presidente do CNK (Conselho Nacional de Kart) da Confederação Brasileira e é o nosso convidado para o Empreendendo nos Bairros.

“Minha vida foi muito bacana, humilde, mas regrada, com honestidade e fé”.

Como muitos representantes da nossa sociedade, o Bagunça também foi atraído para cá e virou hamburguense por opção e coração. Conta ele que sua história, marcada pelos carros, começa em Gramado, numa corrida de bicicletas com 3 participantes. “Eu entregava compras de bicicleta, tinha uma saúde bárbara.”

Na corrida, um competidor furou o pneu, o outro se atrapalhou e o João Narciso venceu. “Não convencidos, foi proposto uma carreira entre os torcedores do competidor do pneu furado e os meus…. com direito a apostas. Por ter vencido, ganhei uma comissão. Este foi o primeiro dinheirinho que eu ganhei para dar de entrada num auto”. Meu irmão me ajudou e comprei um Fordezinho 39 para botar na praça. Aí comecei minha vida. Passados os anos, troquei aquele Ford por um modelo 1948.”

Com seu táxi, todas as manhãs ele levava de 7 a 8 passageiros por viagem até o colégio, em Canela. Uma das passageiras frequentes era ninguém menos do que Ilasy. “Aí surgiu um namorinho e tal… E eu casei com ela aos 22 anos. Comprei um restaurante, botei um motorista na praça, aí já comprei uma camioneta para o restaurante e fui indo.”

“Certo dia, seu José Perini, dono do hotel Serra Azul, teve problema com sua F100  e precisava ir até a serraria. Me perguntou: – Quanto tu cobra  para ficar uns 2, 3 dias comigo… Depois voltou com uma pastinha e perguntou: – Quanto tu quer por esse auto? Fechamos negócio. Eu já tinha um outro em mente, lá em Caxias do Sul. Fiz uma proposta pelo carro, um Ford 47, e peguei gosto de comprar e revender. Chegava em Porto Alegre, comprava um autinho, vendia em uma semana. Só coisa boa.”

Seu Bagunça mudou para Novo Hamburgo no início da década de 60, a convite do ex-prefeito Atalíbio Foscarini, que era sócio da Novocar. Vendeu duas casas que tinha lá e comprou uma aqui. Com o dinheiro da outra, adquiriu cotas da Novocar e passou a ser sócio da revenda. “O Foscarini viu o que eu vendia de carro lá em cima e disse: – Tu tem que trabalhar com nós. Ele foi um cara muito bacana, eu queria que tivesse mais gente honesta como ele, gente muito boa.”

Uma história clássica de Novo Hamburgo diz respeito aos automóveis Galaxie. “Os primeiros Galaxie que rodaram aqui fui eu que trouxe. Comprava em São Paulo e ganhava com eles um bom dinheiro. Nesse vai e vem, vendi até uma Mercedes para o Chico Anysio. Os primeiros carros importados  também fui eu que trouxe. Quando desembarcávamos os carros chegava a reunir 100 pessoas para vê-los.”

De taxista em Gramado ao pioneirismo em carros importados.

Bagunça está no bairro Ideal desde 1971. Considera o ambiente maravilhoso para os negócios. “Quando eu vim para cá não tinha nem calçamento. O comércio praticamente não existia, esse lado era mais residencial. Atualmente, o bairro tem de tudo.”

 

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O som do trem é sinal de que um novo dia está começando e a vida tem que andar

Fabiane Jubett, mãe do Gabriel, nasceu e vive no centro de Novo Hamburgo até hoje. Mudou de endereço, mas não de bairro. Como diz ela, criou-se subindo lomba. Primeiro a da Joaquim Nabuco e, depois, a da Augusto Jung. Hoje, ainda não mudaria para qualquer outro lugar, mas se isso acontecesse, privilegiaria a segurança e iluminação como algo determinante.

Para muitas pessoas, morar no centro é algo impensável. No inconsciente coletivo, a imagem da área central é a de um lugar inabitável. Muita gente, muita poluição orgânica e visual, barulho, desleixo e criminalidade, para começar. Nunca tivemos tal nível de degradação aqui e, no mundo inteiro, os governos municipais acabaram encontrando justamente aí, a oportunidade de se reinventar como cidade.

Casa das Artes: o Centro está ganhando novos atrativos

“Sempre tive facilidade de me locomover, subindo lombas, é verdade. Mas onde resido atualmente tudo é mais cômodo. Não precisamos de carro para chegar até os bancos, o comércio… A facilidade do ir e vir eu valorizo muito. E usando só as pernas, chego ao trem rapidinho. Tenho um filho pré-adolescente, que quando adulto, poderá estudar ou trabalhar na capital. Ter uma estação de trem perto facilitará imensamente a vida dele.”

Lembro da polêmica que antecedeu a chegada do Trensurb. Alguns não queriam, porque ele dividiria a cidade, como Canoas. Outros temiam o barulho, a desvalorização dos imóveis nas proximidades. “Diferente do que era imaginado, o barulho do trem é insignificante comparado ao dos carros. Além disso, vai só até um determinado horário”, afirma Fabiane. E não é necessário eu dizer o que todo mundo vê: só houve valorização imobiliária.

Fabiane e seu filho Gabriel: a paixão em morar no Centro já é dos dois

“Sou uma pessoa que acorda cedo e o movimento do trem já é parte da minha rotina. Me traz à mente a movimentação de gente, e isso me faz levantar com positividade, sabendo que um novo dia e uma nova oportunidade estão nascendo. Não só eu, mas todos os trabalhadores com seus problemas, suas dificuldades, suas razões e emoções estão vivos, tomando as ruas e a cidade. É a vida acontecendo e eu quero participar. Pulo da cama.”

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Com as obras no centro, Fabiane afirma que é natural a confusão. “É como qualquer reforma que tu vais fazer dentro da tua casa. Dá stress. Imagina mudar uma área grande. É obvio que vai dar transtorno nas ruas, no movimento, mas é consequência, o preço que se paga para deixar a cidade mais bonita. Já vistes as calçadas que estão prontas como estão lindas? E a Casa das Artes?”

Hoje, o que a moradora sente falta é de um mercado mais próximo. Uma loja menor, que suprisse as necessidades básicas do dia a dia e que a desobrigasse de se locomover até um dos mercados maiores. E diz que na sua rua existem alguns imóveis abandonados que acabam atraindo viciados e pessoas que causam insegurança. No mais, é só alegria.

Sobra, entretanto, críticas para quem faz uso do centro e não respeita. “Eu escuto muita gente reclamar do centro, principalmente em dias de chuva, creditando toda a responsabilidade para o poder público. Acho errado vir para cá trabalhar, se abastecer, se divertir e jogar entulhos nas ruas. Com a chuva, vão ser levados para as bocas de lobo. É lógico que depois vai entupir, vai alagar.”

Todo novo dia é uma oportunidade a ser celebrada

Pergunto o que faria o bairro valorizar ainda mais?  ” Não sei como está a situação da antiga sede do clube social Atiradores, mas é um espaço que poderia ser muito bem aproveitado para sequenciar a zona nobre da Mauricio Cardoso, com enorme valorização imobiliária para o entorno. Ficaria um luxo. Imaginem algo diferenciado ali! Eu já imagino”.

Fotos: Marcos Quintana

Foto Fabiane Jubett: Arquivo pessoal

 

SORVETES NO INVERNO DE NOVO HAMBURGO? SÓ LÁ EM 1983 COMEÇOU A TER

E pensar que hoje ele, o sorvete, está em todo lugar, durante o ano todo. Até em farmácias já tem para vender. Claro que não o da Sorveteria Rei, o mais tradicional da cidade, o primeiro a ser vendido por aqui nos meses de frio e o que melhor representa a capacidade realizadora da nossa gente. Quem conta essa história para o “Empreendendo nos Bairros” é Gabriel Reinheimer, que há mais de 40 anos comanda o negócio no centro, numa dobradinha com Zélia, sua esposa.

Gabriel e Zélia, de funcionários passaram a empreendedores na cidade

Natural de Rolante, Gabriel cursava o eletro-técnico em Taquara e, aos finais de semana, fazia um bico numa sorveteria local. Em 1974, os donos abriram a Rei na Pedro Adams Filho. Três anos depois, convidaram o Gabriel para assumir a administração da loja e a partir daí, ele e sua esposa se dividiram nesta tarefa até concluírem o curso de Direito e o de Belas Artes, respectivamente.

Em 1982, mesmo ano em que terminou sua graduação, surgiu a oportunidade para comprar a sorveteria de Novo Hamburgo. E, assim, os dois puderam continuar construindo essa história que também é um pouco de todos nós. Duvido que exista viva alma daquele tempo que não lembre do significado e da importância da Sorveteria Rei para a sociedade.

“O pessoal gostava de sair do Cine Avenida e tomar um sorvete. Tinha uma época que jovens do movimento religioso do Centro vinham nos domingos à noite, colocavam as cadeiras na calçada e cantavam ao som de violão. Muitos deles, hoje, são professores, médicos e empresários da nossa cidade.”

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Antes, todavia, o sorvete não era um produto fácil de se encontrar por aqui. Alguns poucos bares e as bancas tinham para vender, no verão! Era uma ousadia quase que impensável investir num negócio com a sazonalidade que o produto apresentava na época.

“Antigamente as pessoas tinham o costume de só consumir sorvete quando estava muito quente. A sorveteria funcionava de setembro até maio e encerrava totalmente as atividades, voltando a abrir só 4 meses depois. Fomos pioneiros em trabalhar exclusivamente com sorvetes.”

Interior da franquia na cidade de Cuiabá (MT)

Em 1983, Gabriel botou na cabeça que precisava criar alguma alternativa para enfrentar o inverno. Foi atrás de uma parceria que lhe possibilitasse ofertar algo diferente para poder manter a loja aberta no período de baixa. “Estava muito na moda o chocolate caseiro de Gramado e investimos nisso”, lembra. Novamente, a Sorveteria Rei foi pioneira com sua estratégia de negócio.

“Nisso, fui surpreendido. O que mais vendemos no inverno com a loja aberta foi justamente o sorvete”. O casal descobriu que se não havia sorveteria aberta no inverno, lógico, não tinha sorvete e, portanto, as pessoas não tinham alternativa de escolha. Outra descoberta deles a partir da situação criada: não precisavam de chocolate para manter a operação. E, assim, o negócio passou a funcionar o ano todo.

Em 1994 montaram seu primeiro buffet de sorvetes e aí as vendas deslancharam para valer. “Opções como a cobertura de chocolate, a parte seca, que não é gelada, e os doces que passaram a ser ofertados como acompanhamento quebram o gelo do sorvete e isso agradou muito”, comenta Gabriel.Os anos passaram e chegou o tempo em que ele pensou que já era hora para o descanso do guerreiro. No seu caso, do sorveteiro. Ledo engano. Havia mais trabalho a ser feito. O novo desafio: colocar o conceito de sorvete artesanal que a Rei sempre teve num produto industrializado. Era 2013/2014 e ele resolveu deixar a aposentadoria para depois, e, talvez, quem sabe, um dia desses. Por enquanto, eles têm uma fábrica para tocar e franquias para administrar. O Sorvetes Rei distribui seus produtos por diversos pontos do varejo e nas suas franqueadas, que já estão até no centro-oeste do país.

Sorveteria Rei na cidade de Rondonópois (MT)

O que representa a sorveteria para estes dois batalhadores incansáveis? O Gabriel não tem dúvidas: “A sorveteria é um programa de família, continua sendo um hábito saudável, reunindo em algumas oportunidades até 3 gerações. Um local sem venda de bebida alcóolica. De celebração da vida.”

E sobre o Centro, eu pergunto. O que tens a dizer? “Vejo o centro de Novo Hamburgo com saudosismo, pois era mais humanizado. Tínhamos 3 salas de cinema, o Café Avenida… Espero que a revitalização traga mais vida, famílias caminhando com segurança e que Novo Hamburgo se transforme em uma cidade diferente como sempre foi. Uma cidade que receba bem, trate bem dos seus, ande para frente, nos orgulhe de ser hamburguenses.”

 

 

 

 

PONTO DE VISTA: Pequenos gestos mexem com valores

O que faz uma região da cidade ser mais valorizada do que outras? O que faz duas casas semelhantes no mesmo bairro terem valores diferentes de comercialização? Não é difícil responder: os lugares mais valorizados são aqueles onde há maior oferta de serviços e equipamentos urbanos.

Uma boa estrutura no entorno puxa os preços para cima. O movimento intenso de pessoas e serviços aumenta a valorização. A calçada limpa, bem conservada e a rua florida e bem iluminada, também. Óbvio, não é? Então, por que a grama do vizinho é mais verde? E o imóvel dele vale mais que o outro que está no lado oposto da rua?

Acontece que o desenho da cidade se desenvolve por meio das pessoas que influenciam a região. Se um grupo quer melhorias e se engaja para construí-las, fatalmente, alcança. Uma floreira, uma praça, um fechamento de rua aos domingos não são coisas impossíveis. Estamos falando de pequenas atitudes que fazem grandes diferenças. As grandes coisas causam impactos maiores ainda. Só não se concretizam sozinhas. Onde existe a cultura da tradição, da inovação e do melhoramento, seja através da arte, seja através do urbanismo, seja por meio do resgate histórico, há projeção imobiliária. O patrimônio de cada um se valoriza, quando se muda a percepção do todo.

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 Como trato com o mercado imobiliário, busco conhecer o desenvolvimento urbano da cidade. Foi assim que teve início o projeto Bairros de Novo Hamburgo – Valorizando o seu Patrimônio. Vamos seguir explorando este caminho, cada vez mais certos de que aquilo que fazemos de bom pela cidade, reflete no bolso de cada um de nós.

 

Meio ambiente cultural em Novo Hamburgo? É por aí que vamos andar em 2019

A aceitação e o carinho manifestados ao longo de 2018 com o projeto Bairros de Novo Hamburgo – Jogando a favor do seu patrimônio, foi algo surpreendente. Teve muita gente interagindo, expressando suas opiniões e me incentivando a dar continuidade. Enriqueci muito o conhecimento sobre nossa cidade e o meu círculo de amigos. O blog, por sua vez, ganhou consistência e conquistou adeptos. Tudo isso me motivou  a evoluir.

A cultura se renova com a recuperação de prédios históricos e abertura de novos espaços

A questão que me ocupou por um bom tempo foi: que caminho seguir para manter o foco e não ser mais do mesmo? O cenário continuaria sendo Novo Hamburgo, claro. E, na minha percepção, o que cativou os leitores foram as histórias dos moradores, dos empreendedores, dos lugares. Não poderia abrir mão disso, portanto.

Comecei a olhar para o lado cultural. Um belo dia, meu amigo e fotógrafo, parceiro no blog e na revista Expansão, Marcos Quintana, apresentou-me a Procuradora do Município de Novo Hamburgo, Cinara de Araújo Vila. Conversa daqui, conversa dali, ela me falou sobre o meio ambiente cultural e, assim, nasceu o novo tema.

Esperamos, juntos, proporcionar momentos prazerosos aos leitores

O assunto é vasto e interessantíssimo. O meio ambiente cultural é um dos cinco prismas do que denominamos ser importante para o nosso bem estar, disse-me a Cinara. Onde vivemos no planeta? O que construímos para viver bem? De que forma construímos o lugar que moramos? Onde trabalhamos? Do que somos feitos?

O meio ambiente cultural é uma faceta daquilo que se convencionou chamar meio ambiente sadio (a origem, a história, os gostos, as construções e o encontro).

“Os bens culturais de Novo Hamburgo são as histórias do passado, os testemunhos do presente e os vaticínios do futuro que formam a sadia qualidade de vida do hamburguense”, ensina. “Educação, disciplina, valores sociais populares e de quem participa ativamente da sociedade são fatores que propiciam o seu desenvolvimento”, completa.

Encantado com o assunto e o conhecimento da procuradora convidei-a para uma entrevista. Ela não só aceitou como topou, também, me orientar na tarefa de desvendar estes novos caminhos por onde andaremos durante o ano de 2019. A entrevista estará na revista Expansão, na edição de fevereiro. Vem com a gente?

Fundos da Casa Presser. Uma arquitetura cheia de charme faz relembrar outros tempos

Fotos:  Marcos Quintana

 

EU NÃO TE COMPRO A FARINHA, MAS TE VENDO A PADARIA, DISSE O PORTUGUÊS

Uma das marcas mais conhecidas e inovadoras do mercado de panificação regional começou de forma inusitada. Ou, talvez, a palavra mais adequada seja visionária. Estamos falando da Padaria Brasil e da história do seu fundador, o Sr Diniz Furlan. Casado com a Sra Aceli Kolling Furlan, com a qual teve dois filhos, ele é o empreendedor entrevistado do bairro Rio Branco e me recebeu em seu escritório para uma conversa deliciosa.

Garantia de pão fresquinho para toda a cidade e região

Na juventude, seu Furlan trabalhava no moinho da família em Galópolis, Caxias do Sul. Quando completou a maioridade, logo fez a carteira de motorista e recebeu, orgulhoso, as chaves do caminhão da empresa. Encarregaram-no de fazer as entregas de farinha nas padarias entre Novo Hamburgo e Porto Alegre. Na verdade, conta, ficou encarregado de ser motorista, vendedor e entregador para toda a região.

O moinho, entretanto, tinha um problema: precisava testar a qualidade da sua farinha antes de entregar aos clientes. Mas naquela época, afirma, não havia como fazer a análise do produto. Os equipamentos precisavam ser importados da Alemanha ou da Suíça. Junto com eles, tinha-se que “importar” um técnico-químico.

A lógica, então, indicou a prática. Não poderiam comprar o laboratório e trazer um técnico do exterior? Por que não comprar uma padaria? Moeriam o trigo num dia, embalariam, mandariam para o teste e, então, saberiam se o produto estava apto para a panificação ou se deveriam destiná-lo às fábricas de biscoitos e massas.

Centenas de clientes circulam todos os dias por aqui

“Não dá para distinguir a qualidade do trigo a olho, saber se ele serve para isso ou aquilo”, diz. “Para a fabricação de pão, o trigo tem que ser forte, para dar crescimento. Para biscoitos, tem que ser farinha fraca, porque, se crescer, o biscoito quebra”, ensina.

No ir e vir entre Caxias e Porto Alegre, o jovem faz-tudo foi visitar uma padaria que ficava em frente de onde, hoje, está a Padaria Brasil. O dono, um português, não queria mais saber de comprar farinha. Queria era vender o negócio.

Furlan levou a notícia para casa. Um mês depois, eles assumiram a loja. Quem iria cuidar? O pai e o sócio se entreolharam e não demoraram a decidir.

– Vai você, Diniz.

Corria o ano de 1965. Surgia, assim, a Padaria Brasil com seu espírito inovador. O tempo passou, o empreendimento se firmou e, a partir de 2001, um outro passo deu destaque ao negócio: os pães congelados.

Márcia é uma das mais antigas colaboradoras. 29 anos de empresa

“Antigamente, existia uma padaria por bairro e olha lá! Com o sistema da Padaria Brasil, todo mercadinho, loja de conveniência ou fruteira passou a poder ofertar cacetinho fresquinho, sem sequer ter um padeiro”, afirma.

A Padaria Brasil entrega para o cliente um kit com os pães congelados e os equipamentos para as etapas de crescimento, forneamento e exposição para venda.

Diniz Furlan acredita muito no Rio Branco. Diz que seus investimentos imobiliários foram sempre no bairro, que considera ótimo para morar e excelente para o comércio. Sob o seu ponto de vista, quem mora aqui tem tudo, não precisa tirar o carro da garagem para nada.

“Acho um lugar perfeito. Tem o Trensurb, farmácias, lojas variadas, o Unidão a 4 quadras. Mais 5 ou 6 quadras tem o Bourbon. Mas no dia a dia, tem tudo por aqui”, comenta.

O que poderia melhorar bastante a vida das pessoas e valorizar ainda mais a região, acredita o empresário, seria a instalação de um paradão na área próxima à Praça do Triângulo. “Todos os ônibus de todos os bairros passam por ali. E conexões para outras cidades também são realizadas por aqui’, afirma.

“Um abrigo bom, moderno e bem aparelhado ajudaria imensamente. Em dias de chuva, de vento, fica muito ruim para os usuários que vêm de todos os cantos da cidade. Sem falar que melhoraria a mobilidade e atrairia ainda mais empreendedores para cá”, conclui Furlan.

Fotos: Divulgação

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Águas dançantes, carnaval na avenida e lambaris no arroio. Há 40 anos, o centro de Novo Hamburgo era outro

Há cerca de 40 anos, as famílias saíam de suas casas nos bairros aos finais de semana para passear no centro de Novo Hamburgo. À noite, as pedras que pavimentavam a Pedro Adams Filho reluziam de alegria ao receber tanta gente. As pessoas vinham ver o movimento, as águas dançantes, tomar sorvete e ir ao cinema. Marcelo Clark, empresário formado em administração, ex-presidente da ACI, habitava o centro naquela época e ainda vive no coração da cidade.

As áreas centrais valorizaram imensamente nas cidades que as revitalizaram

Marcelo veio de Porto Alegre para Novo Hamburgo quando tinha 5, 6 anos de idade. Sua família foi morar perto de onde, hoje, fica o shopping. Depois, na Av Pedro Adams Filho, ao lado da antiga Droga Rio.

– Minha vida é aqui – afirma ele. – Eu brincava com meus amigos dentro do arroio Luís Rau, de tão limpa que era a água, acreditas? O pessoal pescava lambari mais para frente. Adoro o centro, suas histórias e minhas recordações.

Saudosismo e confiança no futuro na entrevista do empresário

O empresário se considera um hamburguense e o centro é sua paixão. Conta que divertiu-se muito por estas bandas. Quando tinha entre 10 e 15 anos, assistia ao carnaval na Av. Pedro Adams Filho, que na época acontecia ali e atraía muita gente. Estamos falando de quatro décadas, o que nem é tanto tempo assim! Seu pai, comenta, trabalhava na Exatoria, onde ficava o antigo Banco do Brasil.

Novo Hamburgo se modificou, evoluiu. Mas essas lembranças são marcantes e Marcelo recorda que havia a Padaria Stoffel no centro, o mercado Samas, que era o maior supermercado da cidade. Depois veio o Kastelão, que hoje é o Big Walmart. Quando perguntado sobre o que mais lhe encantava na cidade que já fomos, o empresário afirma sem pestanejar:

– O chafariz da Praça do Imigrante! A gente ia ali assistir as águas dançantes. Era um espetáculo. Havia música e as águas jorravam ao ritmo dela, com luzes coloridas acompanhando. A prefeitura, agora, está reformando aquele espaço e resgatando algumas coisas do passado. O bairro foi mudando e continua mudando.

Na visão do empresário as perspectivas são muito boas para o futuro próximo. Ele acredita que a revitalização que está acontecendo vai fazer a comunidade ver o bairro com outros olhos e que as pessoas voltem a passear no centro, olhar as vitrines, tomar um sorvete à noite… Para isso, diz ele, é preciso revitalizar, iluminar, ter atrações e segurança. A Casa das Artes é uma grande notícia também, lembra ele.

– Várias cidades que revitalizaram as áreas centrais viram elas se valorizarem imensamente.

A cidade está voltada para o futuro. Em 40 anos, a evolução é visível

As características fundamentais do bairro para o Marcelo é que tem tudo perto: mercados, lojas, shopping, restaurantes, bancos. A mobilidade no centro, diz ele, é até melhor, menos crítica do que na Maurício Cardoso, por exemplo. Ele também vê uma diminuição de pessoas morando nas ruas. Mas afirma que sempre vai existir alguma coisa para melhorar.

– O centro é um lugar de grande fluxo, trabalho, comércio. Precisa de mais alternativas de mobilidade. Não temos uma ciclovia legal na área. Os ônibus de bairro poderiam levar para algum lugar que distribuísse melhor as linhas.

Como de costume, quis saber do Marcelo quais são os valores que ele vê no centro para atrair investimentos imobiliários. Ele me disse que é um bairro que gira em torno do sistema financeiro, tem as entidades que representam segmentos importantes da economia local. Na sua percepção, hoje, o grande negócio é ir trabalhar de manhã e não precisar de carro pra ir almoçar, voltar para o escritório. Isso o centro proporciona, conclui.

Foto Marcelo Clark: Arquivo pessoal

Fotos: Marcos Quintana

PONTO DE VISTA: O ano está terminando e as perspectivas para negócios imobiliários já são outras

Tenho compartilhado nesta coluna do blog, assuntos relativos ao mercado e potencial imobiliário de Novo Hamburgo. Não tenho o mapa da verdade ou segredos exclusivos para revelar. Entretanto, vivo e ando pelas ruas e bairros desta cidade há muitos anos. E, também, já faz muito tempo que passei a vê-la com os olhos de um profissional que atua na conexão entre quem quer comprar e quem quer vender um apartamento, uma casa, um prédio comercial ou um terreno aqui.

Através desta vivência e do conhecimento acumulado, surgiram as publicações mensais na revista Expansão e, logo depois, as semanais no endereço eletrônico blog.jorgetrenzimoveis.com.br. As pessoas, então, passaram a querer saber mais sobre o que penso e como vejo o cenário imobiliário local. Surgiu, assim, a coluna Ponto de Vista, um espaço de análise e projeções sobre os negócios imobiliários, publicada na última semana de cada mês.

Mas é chegada a última semana do ano. Um ano que não vai deixar saudades, no entanto, abre as cartas sobre a mesa novamente. Recomeçamos o jogo em bases bem diferentes. Além do já posto aqui, e que você pode conferir visitando os links das últimas colunas do Ponto de Vista, acho importante dar luz a um recente comunicado de uma grande companhia de cimento, a Votorantim. A empresa está desengavetando um projeto de R$ 200 milhões para a Região Sul, na expectativa de forte retomada do setor de construção civil nos três estados (RS, Santa Catarina e Paraná).

Por aqui, já se veem as primeiras mudanças no centro, novo hospital saindo do papel, investimentos pipocando, o mercado se mexendo. No meu ponto de vista, são sinais claríssimos que teremos um 2019 mais movimentado no segmento. Tenhamos fé. É perspicácia para aproveitar bem as oportunidades. Um feliz ano novo a todos e obrigado pela companhia mais uma vez.