Quando todos estão bem, inspirados e confiantes, é melhor para Novo Hamburgo

O que podemos esperar? Quais as perspectivas? Teremos mudanças que nos levem ao desenvolvimento ou estamos fadados a ir de reboque num estado falido? Quis ouvir nossa prefeita, Fatima Daudt, que gentilmente abriu espaço na sua atribulada agenda para esta entrevista e, de quebra, me deu um título carregado de boas vibrações e de esperança.

O que inspira a senhora como cidadã, como arquiteta urbanista e prefeita?

O que me inspira é a própria cidade. O senso comunitário está no DNA da comunidade hamburguense e quero contribuir para a construção de um lugar melhor, mais inclusivo e moderno. Acho que quando todos estão bem, todo mundo ganha. Então, essa é a intenção. Muitas coisas criadas aqui foram através das práticas comunitárias. A Fenac, a Universidade Feevale e outras tantas iniciativas nasceram de reuniões em clubes, em associações de bairros e fizeram a diferença nas nossas vidas. Depois se perdeu isso, mas tenho certeza de que esse espírito não morreu. Está aí, pronto para aflorar de novo, nos encantar outra vez, nos mover e fazer crescer.

A sociedade brasileira está num momento em que desacredita de tudo. Novo Hamburgo não está diferente.

A comunidade precisa se inspirar para inspirar a cidade. Precisamos projetar o futuro, botar a casa em ordem e perseguir nossos sonhos, nos apropriando daquilo que é nosso outra vez. Quando há união e propósito, os caminhos se abrem. Olha o exemplo do Parcão. A comunidade assumiu o Parcão e em alguns finais de semana chegamos a ter 5 mil pessoas lá. Os espaços públicos são locais de socialização. Quando a cidade não tem esses espaços ela acaba perdendo a alma, ela acaba perdendo o convívio e é no conviver que começamos a criar grupos e ações que podem ser positivos para a cidade. Esta visão está no meu plano de governo e nós já avançamos em alguns pontos. O Parque Floresta Imperial, no bairro industrial, está todo revitalizado, com segurança, e a população está utilizando aquele local novamente. O Parque do Trabalhador também já está com início de obras e todas as praças terão nossa atenção. Durante os quatro anos de administração trabalharemos no sentido de trazer de volta esta possibilidade do convívio em várias frentes.

O que deve inspirar Novo Hamburgo para que tenhamos um futuro promissor?

Ações positivas. A gente tem que pensar positivo e atuar neste sentido. O que nós estamos vendo nesses últimos anos são episódios negativos que se sobrepõem e fazem com que, no dia a dia, se fale demais em coisas ruins no Brasil inteiro. Eu acredito que as situações contrárias existem para nos ensinar, não para nos prender. Então, o que vai fazer com que as coisas mudem é o próprio cidadão. Eu andei vendo umas frases muito legais ultimamente: #boratrabalhar; #chegadefalar. Acho que é por aí mesmo. As pessoas ficam muito no discurso, se pegando no desconstruir e não no construir. Hoje é muito fácil bater, falar mal, mas é difícil ver grupos de pessoas que fazem, agem e constroem alguma coisa boa.

 O que orgulha a senhora nas ações concretizadas até o presente momento?

A prefeitura é um trabalho difícil, árduo, não tem hora, não tem dia, é direto. A cidade não para 365 dias por ano. E precisamos apresentar resultados. Uma coisa que eu dizia durante a campanha era: ” – Eu não aguento mais ver as pessoas irem a Campo Bom tirar fotos na praça (risos)”. Hoje eu fico feliz da vida, acompanhando nas redes sociais, o pessoal vindo de fora tirar fotos no Parcão. É o primeiro ano de governo e ter este tipo de resposta é muito gratificante.

A senhora imaginava que fosse um trabalho duro assim?

 Eu imaginava que sim, porque na ACI eu trabalhava com três prefeituras. Eram três prefeitos, três Câmaras de Vereadores, então eu já tinha uma ideia do que seria. O que eu não imaginava, mas fui alertada pelo  Dr Ruy Noronha, que participou de várias administrações, é o desmanche que nós encontramos na prefeitura. Isso eu não esperava. Meu esforço e de todos os secretários durante este ano foi imenso. E aí surge a importância da nossa escolha ter sido técnica, porque só assim pra conseguir colocar as secretarias em funcionamento e nos eixos. Tem muita coisa ainda pra fazer, só neste sentido, de organizar a casa. Imagina o resto. Mas chegaremos lá.

Lá, onde, prefeita?

Novo Hamburgo é uma cidade de ponta, precisa reassumir seu protagonismo. Até agora, nós estamos trabalhando para fechar o ano com o orçamento que recebemos. Assumimos tendo que fazer tudo ao mesmo tempo. Enquanto estávamos nos organizando eu estava tentando, também, recuperar o recurso do BID, que estava perdido. E muitas questões explodindo pela cidade toda. Existem muitos problemas e as pessoas querem respostas. Respostas imediatas, mesmo para situações relegadas a décadas, como os alagamentos, o asfalto que está completamente envelhecido. A gente tapa mil buracos, aí chove e abre dois mil.

A administração está atrelada ao orçamento da gestão passada?

Exatamente. A maioria das pessoas não têm consciência disso. O mesmo se dá quando a Cultura, por exemplo, aplica 30 mil num evento e o pessoal reclama: “Ah, mas com tanto buraco na cidade vai investir nisso?”. São verbas vinculadas, portanto, atreladas aquela pasta. Eu não posso pegar o dinheiro que está numa secretaria e botar no asfalto porque eu quero. Existem regras e leis que precisam ser observadas. Mas daqui pra frente, o trabalho começa a ser diferente.

O que há de novo pela frente?

Deixamos várias licitações prontas em dezembro para que, já nesse inicio de exercício, possamos dar sequência aos trabalhos e não perder meses para organizar as licitações e colocar o processo em marcha. Fizemos um planejamento pra isso. Também é necessário que o município tenha um aumento de receita. Durante muito tempo nós perdemos empresas e a nossa receita precisa ser ampliada para que possamos suprir as necessidades e ter recursos para investir no desenvolvimento. Isto já está acontecendo com os movimentos que fizemos para atrair novas empresas e com um novo modelo econômico. O CIT, que é o Centro de Inovação Tecnológica, será construído no próximo ano e tenho certeza, vai contribuir.

Sobre o Centro da nossa cidade, como  se dará a revitalização?

Através dos recursos do BID que havíamos perdido. Em 8 anos, tínhamos executado apenas 7% do projeto e isso fez com que o Banco rescindisse o contrato. Tivemos quatro meses de trabalho para recuperá-lo e foi o primeiro caso do banco na sua história. Por isso, fui convidada para palestrar em Washington, no Fórum de Prefeitos da América Latina, o que me deixou muito satisfeita. Se não tivéssemos conseguido reverter isso, Novo Hamburgo estaria na lista negra do Banco Interamericano de Desenvolvimento e não conseguiríamos mais recursos através dele. Sem falar que isso se espalha entre outros bancos internacionais, então, veja a dificuldade que estaríamos criando para nós no futuro.

Quando começa a revitalização?

Nossa intenção é tocar este processo  já a partir desse mês e iniciar as obras até o meio do ano. Tudo vai depender do andamento das coisas, mas este é o nosso cronograma. Queremos fazer tudo o mais rápido possível, porque a intervenção é grande e temos ali uma área de comércio. Então, quando começarmos os trabalhos, é importante que haja o entendimento sobre a sua importância. Vai ser muito bom para os comerciantes, porque o centro vai ficar bonito, toda a praça do Imigrante será revitalizada, as vias do entorno, a parte das calçadas, o calçadão, o paradão, a parte elétrica. Tudo isso vai ser feito novo. Teremos um café, as bancas serão melhoradas, a praça vai ganhar um chafariz. Onde fica o terminal turístico hoje, teremos um ponto da Guarda Municipal, melhorando a segurança do centro. A otimização da rede elétrica vai acabar com a poluição visual que se percebe hoje.

A revitalização contempla todas as vias do entorno da praça?

Sim. Todas as calçadas serão trocadas e padronizadas com a linguagem universal de acessibilidade. Vai ter o piso tátil para deficientes visuais, acessibilidade para deficientes físicos, sinaleiras com alerta sonoro, sinalização para os pedestres fazerem o cruzamento das vias.

Sua trajetória profissional tem ajudado no trabalho à frente da prefeitura?

O fato de ter sido presidente da Associação Comercial e Industrial por cinco anos e a formação como arquiteta e urbanista têm auxiliado bastante. E meu amor pela cidade também, pois eu nasci e cresci aqui. À frente da ACI, desenvolvi um pouco mais o aspecto da gestão. Ao mesmo tempo, minha visão de arquiteta e urbanista cria possibilidade de ver a cidade no todo. Não só a infraestrutura, mas as questões sociais também, as necessidades mais banais e até situações relativas à valorização imobiliária, por exemplo, que é a tua área. Acho que isto é crucial.

 

 

 

3 thoughts on “Quando todos estão bem, inspirados e confiantes, é melhor para Novo Hamburgo”

  1. Esclarecedora e animadora, a entrevista com nossa prefeita. Bom saber que há uma visão integradora, preocupada com o todo e pensando mais à frente, além do imediato. Seria importante que houvesse um plano integrado com a secretaria de educação, visando trabalhar essa questão da comunidade e da cidadania; isso ajudaria para que tivéssemos mais pessoas se envolvendo e se comprometendo com as ações na cidade, também tendo um olhar mais abrangente, na tão limitado, desconhecedor dos fatos e afeito apenas a criticar.

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