Certamente, muitos que, como eu, residiam em casas há umas cinco décadas, lembram do apito do afiador de tesouras e do anúncio cantado do comprador de ferro velho. “- Compro ferro velho, osso e vidro quebradooo!…” O que faziam daquilo a gente nem imaginava. Mas os empreendedores – sempre eles – anteviam o valor da reciclagem e já transformavam aqueles materiais em sustendo e em negócio. Neste meio, criou-se o empresário João Sampaio, que depois teve o apoio e até hoje tem a confiança da Gerdau. Atualmente, a Sucatas Sampaio recolhe material em toda região metropolitana, Vale do Paranhana e serra.

“ – Meu pai, embora não soubesse ler e mal sabia escrever seu nome, era um homem muito inteligente, um empreendedor nato.” A família mudou de São Jerônimo para Minas do Butiá quando João tinha 10 anos. Lá residiram por seis anos. “- Meu pai subia a serra para comprar galinhas e produtos coloniais para revender em Butiá. De lá, viemos para Guaíba, viajando numa carroça de 4 rodas. Saímos às 7 horas da manhã e chegamos de noite”, conta.
A necessidade, para a grande maioria, talvez fosse a única razão de enfrentar um trabalho duro como cortar arroz a foice nas granjas de Butiá. Mas o velho Sampaio sonhava alto. Empregava os músculos para realizar o sonho de subir na vida. “- Em Minas, o pai foi empreiteiro, chegou a contratar 100 homens para a lida nos arrozais. Em Guaíba, começamos a puxar lenha por metro, da Ilha da Pintada até a estrada, onde a carga era transferida para caminhões .”
Deus ajuda quem se ajuda e cedo madruga. “- Um dia apareceu um carroceiro comprando ferro velho, osso e vidro quebrado. Era uma festa para a gurizada e o pai disse: eu acho que isso aí dá dinheiro, filho! Junta tudo que temos aí e vamos levar direto no depósito. Passado um tempo, descobriu que o depósito que comprava em Guaíba, revendia em São Leopoldo. A partir daí meu pai reuniu todos os filhos e passamos a andar pelas ruas das cidades vizinhas da região, de carroça, comprando ferro velho, osso e vidro quebrado. Chegávamos a recolher 60 toneladas por mês. Vinha o caminhão de São Leopoldo e levava tudo.”
O esforço foi dando resultados, ampliando a visão, gerando novas possibilidades e questões para responder. Por que ter intermediários? Foi então que os Sampaio decidiram vender direto para a Gerdau. E conseguiram. Percebendo o potencial da família, um tio do jovem João que trabalhava com sucata em Novo Hamburgo convidou os parentes para também se instalarem na cidade, que se mostrava mais próspera. Muito apegado a Guaíba, o patriarca recusou. “- Em 1986 eu decidi que viria para cá, pois tinha muitas indústrias e poderia ser melhor para o negócio.
“- Fiz como todos que vinham de fora na época. Fui morar na área verde, junto à RS 239. O pai e eu compramos um depósito que existia ali e lá me instalei. Passei a comprar dos carroceiros. O pai emprestava o caminhão dele para eu carregar no sábado e domingo e levar na Gerdau. Na segunda-feira, ele pegava de volta. Cheguei a fazer 27 carretinhas de empurrar com a mão e dava para a gurizada catar sucata pela cidade. De manhã cedo era uma gritaria da piazada saindo.”
Durante 12 anos o negócio funcionou nestes moldes e prosperou. Mas quem empreende não pode se acomodar. “- Resolvi fechar o meu depósito e comecei a comprar direto dos depósitos que existiam na região. Passamos a centralizar todo o material recolhido aqui no bairro Canudos. Decidi também parar de trabalhar com papel e vidro quebrado. Eu e meu funcionário carregávamos e descarregávamos umas 6 toneladas por dia, tudo à muque. Era sofrido demais, e precisei investir num caminhão. Tinha um carro que dei de entrada e a Gerdau me financiou um Mercedes à vista. Sonho realizado!”
Um dia, próximo do Zoológico em Sapucaia do Sul, o telefone do Sampaio tocou. Era o comprador da Gerdau, dizendo que a empresa queria que ele comprasse uma “garra” para agilizar o carregamento. “- Respondi que não poderia colocar uma “garra” num caminhão toco e ele então disse para ir atrás de um Truck. “- Vê o preço da garra, faz um orçamento e nos diga o valor que precisas.”
Trabalho, seriedade e competência conquistaram a confiança de uma empresa líder no trabalho de um pequeno empreendedor. O projeto de futuro do Sampaio é adquirir mais um caminhão e garra novos, totalizando cinco equipamentos, sendo quatro deles completos.
Pergunto se ele acredita em Novo Hamburgo. “- Acredito muito e sempre digo para a minha família.. Quando o momento está mais ou menos para Novo Hamburgo, da região que vim, estão matando cachorro a grito.”
Conheço a história dessa familia querida. Grandes amigos merecedores de toda essa conquista.
Que história admirável!
Parabéns por conta-la de forma tão inspiradora!