POR QUE A GENTE É ASSIM?

Com 9 anos ela já participava das reuniões com os preservacionistas do bairro Hamburgo Velho junto com a mãe, que é historiadora. Andréa Martins Schütz, arquiteta e urbanista, percebeu desde cedo o valor do patrimônio histórico para uma comunidade. Por isso, tem um olhar muito positivo sobre preservação.

“Vejo o patrimônio histórico de uma forma extremamente afetiva, ele está dentro da minha pessoa. Tive a felicidade de ter nascido numa família que sempre teve consciência de que nós, em Novo Hamburgo, fomos agraciados com um sítio histórico que foi tombado em nível federal por ser um registro de memória fortíssimo da imigração alemã dentro do nosso país.” Preservar esses espaços, afirma, é o que nos dá identidade.

Patrimônio histórico: é necessário que a população seja ouvida.

Conhecer suas raízes, o contexto da sua formulação cultural, é importante para as gerações futuras poderem se conectar com o lugar, sentirem-se parte dele. “Uma população não pode apagar sua história ou de onde ela vem, porque dificilmente poderia seguir seu rumo construtivo. Alguns jardins que ainda mantém características da imigração alemã, lugares que produzem alimentos que vêm do conhecimento culinário daqueles primeiros imigrantes; alguns tipos de fazeres e saberes que lembram os nossos avós, as nossas bisavós, ajudam a manter essa história viva e fazem a gente compreender por que somos quem somos, porque hoje Novo Hamburgo é desse jeito, dessa forma. Pessoas que viveram em tempos passados deixaram seus registros no tecido urbano”, ensina.

Se olharmos par trás, veremos total coerência nesta linha de raciocínio. Afinal, este sistema de construção social foi o que possibilitou nossa ascensão econômica no passado. Não podemos esquecer, sob hipótese alguma, que o sapato foi a força motriz da cidade, que a indústria calçadista levou Novo Hamburgo a ser conhecida no mundo inteiro pela sua fabricação de sapatos, fortemente influenciada pelos imigrantes.

“Então, são esses aspectos que nos fazem ter amor pelo lugar, querer preservar o lugar. Temos casas, edificações, uma estrutura urbana consolidada e isso é muito importante. Mas não é só o patrimônio das edificações que precisa ser valorizado, mas o patrimônio cultural e natural, que inclui a paisagem. Nosso sítio histórico tem muito valor porque ainda abriga um contexto de paisagem preservada.”

Andrea aponta para a multidisciplinaridade como forma de conjugar com equilíbrio o lado da preservação e do progresso. “O grande segredo para ir adiante é dar as mãos e construir resultados positivos”, diz. “Por isso, também, é muito importante a população poder entender esse processo, termos discussões públicas sobre o assunto patrimônio histórico. Minha educação foi no sentido de valorar o patrimônio, não ver essa riqueza como uma coisa velha, decadente, que não vai ter valor para mim. É o contrário”, explica. 

Sou partidário desta linha de raciocínio, porque as próprias questões estruturais exigem esse realinhamento. É impossível manter uma estrutura com cem por cento da sua originalidade. Temos que abrir frentes para adequá-las à questão da acessibilidade, das exigências sanitárias, de segurança, de dados… “O ideal é ter uma arquitetura moderna conversando com a antiga, sabendo que elas foram feitas em momentos diferentes, porém, se adequando ao progresso que a humanidade vai tendo ao longo do tempo”, conclui.

Comento que os jovens hamburguense têm feito muito lazer no bairro histórico de Hamburgo Velho. “Isso é ótimo, porque eles também trazem uma visão diferente de mundo, ligada à sustentabilidade, à questão de poluir menos, de poder usar uma ciclovia, um sonho, aliás, que acalento há muito tempo naquele local. Eu acho que Novo Hamburgo tem um potencial significativo de levar adiante sua história e está mais que na hora de nós, como cidadãos dessa cidade, nos abrirmos para isso e construirmos juntos esse resultado.”

 

 

 

 

 

 

4 thoughts on “POR QUE A GENTE É ASSIM?”

  1. Maravilhosa entrevista com a colega Andréa Schütz! Importante presença na cultura e preservação de nossas raízes e patrimônio edificado!

  2. Adorei a entrevista,concordo com a iniciativa de preservar e valorizar nosso bairro histórico.
    É claro que isso tem custos,demanda muito tempo e esforços,mas sempre valerá a pena.
    Não se trata apenas de restaurar coisas velhas,mas mas ter a consciência de que temos uma história, temos uma identidade!

  3. Querida Andrea, uma batalhadora na questão do patrimônio histórico em nossa cidade. Compactuo com suas colocações e aos poucos a comunidade vai entendendo a importância e necessidade da preservação. Construímos nossos referenciais mas também vamos dialogando com o presente e o futuro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *