Canto Coral – Surgido na idade média, virou patrimônio imaterial de Novo Hamburgo

A música praticada nos templos da Idade Média era o que conhecemos  popularmente por canto gregoriano. Músicos das grandes catedrais costumavam sobrepor melodias independentes sobre um determinado trecho, obtendo estruturas musicais mais volumosas e impactantes do que as simples melodias cantadas em uníssono. Esta forma musical reunia muitos cantores e era conhecida como organa. Dela que originou-se o canto coral, que teve como um grande centro cultor e divulgador a Catedral de Notre Dame, de Paris.

Coral Nossa Senhora da Piedade: uma atividade voluntária de paroquianos e paroquianas que praticamente não conhecem música.

O canto coral também é uma referência artística da cultura teuto-brasileira. Foram os imigrantes que trouxeram a “Hausmusik” (a música caseira) e o “Lied” (canto) para o Brasil. Os encontros nas igrejas católicas e evangélicas para cantar composições religiosas foram suas primeiras manifestações. Sobre isso, e porque somos parte importante nessa história, fui conversar com a Irmã Veronice Weber e Luiz Gerhardt, que tinha 8 anos quando ingressou no Coral Nossa Senhora da Piedade. E nunca mais saiu.

Em 1954, por iniciativa do Mons. Edmundo Backes, foi organizado o Coral Nossa Senhora da Piedade. O jovem padre, natural de Sinimbú/RS, veio da capital gaúcha para a distante e já antiga Paróquia Nossa Senhora da Piedade. Na bagagem, trazia muitas partituras e livros de canto e liturgia, paixão antiga do néo-sacerdote. Ao chegar nestas terras de Hamburgo Velho, logo convidou paroquianos e iniciou os primeiros movimentos de canto religioso.

Luiz Gerhardt tinha oito anos quando ingressou no coral e nunca mais saiu.

Em janeiro desse ano o coral completou 65 anos e Luiz Gerhardt restou o único remanescente daquele grupo. Homens e mulheres foram se somando nesse período, mas muitos já estão hoje com 40, 50 anos de participação no coral. “Uma das maiores dificuldades que vivenciamos não é somente o acréscimo de pessoas, mas sim um acréscimo de pessoas jovens”, afirma Luiz.

Os corais têm sido uma das maiores forças vivas da nossa comunidade. Participam intensamente nas atividades sociais das igrejas e em eventos. Luiz diz que o nosso movimento coral influenciou o avanço da organização da teoria musical. “Ajudou a desenvolver e refinar o canto até chegar à formas mais ordenadas de estruturação, o que proporcionou o surgimento do moderno canto coral. É preciso preservar isso e evoluir ainda mais”, completa.

Um coral demanda bastante tempo e, por isso, há muita dificuldade para renovar os quadros. A atividade é de grupo e eminentemente técnica. Hoje, exige ensaio contínuo e ininterrupto. “Mas pela tradição e porque ainda existem profissionais totalmente comprometidos com esta arte, o município continua sendo um polo forte”, diz Irmã Veronice.

Irmã Veronice, regente há 10 anos.

“No caso específico do Coral da Piedade, a perseverança de seu fundador, regentes, organistas e componentes manteve a instituição ativa e atuante até os dias de hoje” complementa Luiz. O Coral da Piedade ganhou notoriedade, também, pela difusão das suas apresentações.

“Em 1997 começamos a ensaiar encenações. O criador era o irmão José Bernardes. Nessas apresentações falávamos muito do Antigo Testamento, do Paraíso, de Adão e Eva. Praticamente metade do coral virava intérprete e a outra metade dava força no canto. Nós viajávamos a cada 3 meses, isso é um fato histórico, talvez o mais forte do coral da Piedade.”

Projeto Meio Ambiente Cultural

Colaboração: Cinara de Araújo Vila – Procuradora do Município de Novo Hamburgo

Fotos: Sérgio Jost

 

 

 

5 thoughts on “Canto Coral – Surgido na idade média, virou patrimônio imaterial de Novo Hamburgo”

  1. A história do Coro Misto Nossa Senhora da Piedade se confunde com a comunidade de Hamburg Berg, hoje Hamburgo Velho. Em torno da igreja, o bairro e a cidade cresceram. Muitos lutaram bravamente pelo surgimento e pela continuidade do coral. Ingressei no grupo em 1990 e destaco a acolhida que tive e o convívio com Benno João Wolmann. Regente da época, nos deixou somente para sua caminhada final aqui na terra. Outros heróis e heroínas também tiveram seus grandes momentos junto ao grupo. Parabéns à Paróquia da Piedade, parabéns aos desbravadores destas terras, parabéns ao canto coral e parabéns a todos nós que amamos e exercitamos o canto.

  2. Parabéns pela matéria belíssima e pelos comentários muito interessanes do Sr. Irineu Dutra que nos mostra a importância de conhecer e compreender a história e as origens – o acolhimento e desenvolvimento. O Patrimônio Imaterial de Novo Hamburgo.
    O meio ambiente cultural abrange o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. Tudo isso está na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural.
    Que riqueza o Canto Coral é para Novo Hamburgo!

  3. E muito importante para nós moradores de NH e região , sabermos mais da cultura e pessoas que se dedicam para que venhamos ter mais conhecimentos de nossa história e pessoas que se dedicam para nós termos esses conhecimentos.

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