Luís Coelho é um profissional que sabe muito sobre nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Ele atua há mais 20 anos no setor de calçados, bolsas e manufaturados no Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Chile e Portugal. É o presidente da Coelho Assessoria Empresarial e afirma com convicção que, apesar dos percalços, seguimos ligados ao calçado.

Nossa história com o calçado começou no século XIX, com os primeiros imigrantes alemães que vieram para cá e, a partir da fabricação de peças de selaria, com o couro que eles mesmos curtiam, criaram, uma outra indústria. Começaram a surgir as primeiras empresas calçadistas e isto provocou o surgimento de uma cadeia produtiva para apoiar essa indústria: surgiram os produtores de solados e dos vários componentes que vão no calçado.
A cidade cresceu firme e forte alicerçada por este segmento. Nos tornamos referência em diversas áreas por conta da produção de calçados. Só que o mundo mudou e a China chegou. “Desacreditamos do calçado quando, há 30 anos, a China começou a produzir numa escala absurda. Recaiu sobre Novo Hamburgo a sensação de que o calçado havia acabado aqui e a cidade com ele.”
É do jogo. Na década de 90 os governos da Bahia e do Ceará identificaram o que os chineses viram antes e nós antes deles: o setor absorve muita mão de obra e isso ajuda a desenvolver cidades interioranas em qualquer lugar do mundo. Então, fizeram ofertas maravilhosas de incentivos fiscais e as empresas, até para subsistirem e aguentarem a concorrência com a China, abriram plantas nesses estados. “Tem empresas lá com 75%, 90% de isenção do ICMS, as vezes até 100% de isenção do Imposto de Renda”, diz.
Na visão do consultor, precisamos mudar a percepção. Pelo tempo e convivência que tem com o segmento, é claro que o Luis sabe do que está falando. E para ele nós não quebramos, nós evoluímos. “Se olharmos para as grandes cidades veremos que a indústria não está mais ali, a não ser que se tenham distritos industriais. Estamos nesta fase de nossa caminhada.”
Na verdade, mesmo tendo perdido muitas plantas industriais para o norte e nordeste, nenhuma empresa importante fechou as portas aqui. Toda a área administrativa, marketing, compras, comercial, desenvolvimento de produto ficou no Sul. Se juntarmos as 10 maiores empresas de calçados do Brasil, pelo menos 9 são gaúchas da nossa região. Estamos seguindo nosso destino, como todo centro em desenvolvimento.
“Nós temos o maior “cluster” de calçados do Ocidente. Temos o gado no campo, a indústria petroquímica, comercializadoras, trading, logística. Tem tudo aqui. Então, acabou o quê? Nós temos a massa crítica, que é fundamental. O IBTeC – Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos está aqui.
Todas as entidades de classe estão sediadas em Novo Hamburgo (couro, calçados, máquinas, componentes). Temos a Feevale que está resgatando, através do Centro de Design e dos seus cursos de engenharia de produção, uma participação importante, ainda que tímida nesta cadeia. A maior feira do Ocidente de componentes e máquinas está aqui. Dizer que o setor acabou é, no mínimo, falta de conhecimento.

Pergunto se dentro da nova realidade mundial, a indústria calçadista é ultrapassada. Luis acredita que é o contrário. “Empregam-se tecnologias sofisticadíssimas em todos os processos e o setor paga muito bem ainda. Tem modelistas recém-formados ganhando R$ 5 mil, aqueles com mais tempo na função já ultrapassando R$ 10 mil. Estilistas com conhecimento e experiência ficam na faixa dos R$ 40 mil.”
Que profissão remunera dessa forma em poucos anos? E tem a área de produção, o comercial… A indústria de calçados é uma grande alternativa para quem quer se desenvolver, ganhar bem, viajar, conhecer outros países. O setor é muito poderoso e, talvez, devemos mesmo botar mais fé naquilo que aprendemos a fazer tão bem.
“O mundo vai continuar crescendo, a população vai continuar usando sapatos. A produção mundial está em torno de 23 bilhões de pares. O Brasil está próximo a 1 bilhão. Claro que aí tem muito de sandálias de dedo mas, mesmo assim, nós somos um grande produtor, o Vale do Sinos continua sendo um dos principais produtores no Brasil. Para o calçado acabar por aqui precisaremos fazer muita coisa errada. Mas estamos no caminho certo” conclui.
Parabéns!
Também acredito que as empresas que ficaram fizeram um esforço muito grande em se profissionalizar cada vez mais e a cada instante.
E que sufoco para as empresas calçadistas, porquê as que ficaram estão de parabéns, a esse setor q emprega muita gente , é porquê têm produtos de excelente qualidade produzido por aqui , na nossa região do Vale.
Não temos que focar em volume e sim em qualidade,aí agregamos valor aos nosso produtos,esse é o caminho,penso eu.
Ótima reflexão. Na minha opinião, no Vale temos grandes empreendedores que ficaram “viúvos” do calçado e ainda não se reergueram ou buscaram outro mercado. Também acredito que o mercado do sapato ainda tem força, mas não como já foi. Mas empreendedor é empreendedor. O que me incomoda mais é o sentimento de derrota, o pessimismo, a falta de colaboração. Parabéns Jorge.
Meu amigo Luís coelho sempre bem informado e com uma visão otimista em relação ao futuro calçadista.
Parabéns mais uma vez pela matéria Jorge e um forte abraço ao meu amigo Coelho…
Bem isto Coelho. Nós já vimos o apocalipse do calçado diversas vezes, mas estamos resistindo firmes e fortes. Tenho muito orgulho do que fizemos pelo calçado no Brasil e na Região nas últimas décadas. Somos igual a água, vamos nos adaptando as mudanças dos tempos e as demandas do meio. Para frente é que se anda. Parabéns pela matéria!
Resiliência e inovação – eis o trunfo de Novo Hamburgo.
O elo entre as pessoas, a força do empreendedorismo, a prosperidade da educação são formas que Novo Hamburgo tem para encontrar novos caminhos de EXPANSÃO.