Com certeza você sabe que o músico Délcio Tavares é o compositor do hino de Novo Hamburgo. Aproveitei que ele sempre está aqui nas comemorações dos nossos aniversários para saber como foi o processo criativo do hino e da letra e como ele viu e viveu aquela época. Délcio é um gaudério de Tenente Portela, no Alto Uruguai, que como tantos outros virou hamburguense de coração.

O que o trouxe para cá? As abundantes alternativas de trabalho que, por muitos e muitos anos, caracterizaram nossa Novo Hamburgo e quiçá estejam voltando. “Novo Hamburgo representa muito na minha vida. Me causou uma dificuldade imensa para conseguir emprego na área de Recursos Humanos, na qual havia me formado e especializado. Precisei aceitar a função de auxiliar, uma situação bem complicada quando tu ja estás acostumado a gerenciar. Isso me fez optar em definitivo pela música.”
“Até então, eu nunca tinha olhado para a música como profissão. Foi lá por 79 que eu fiz essa opção”, relembra com ar saudoso. E conta que naquele período, o secretário de serviços urbanos era Luís Albuquerque, um homem que amava flores e plantas. “Tínhamos um roseiral na Praça 20 que era uma coisa espetacular, as nossas praças, em via de regra, eram todas floridas.”
“O Parque Floresta Imperial era um jardim, uma coisa espetacular. Aos domingos, a gente ia ao parque fazer churrasco com a família, com os amigos, aproveitar aquele ambiente natural, acolhedor e de uma beleza encantadora.”
Foi inspiração para a letra do hino, eu pergunto? E aí ressurge a história. “Em 1982, o governador dos gaúchos era o Jair Soares, e ele criou o Polo Cultural de Novo Hamburgo. A professora Liene Schutz foi escolhida como gestora e ela criou o festival Canto da Cidade.”

O movimento coralístico era muito forte aqui e Délcio era regente do Coral Luizinho. Foram convidados para inscrever uma música no festival. “Nos enviaram um histórico, contando como foi a ocupação do Vale dos Sinos pelos alemães. Um dia, voltando de Porto Alegre, na descida do Liberato, avistei os únicos prédios altos da cidade, que eram dois: a igreja São Luiz e o edifício da Companhia de Seguros Novo Hamburgo.”
Olhando a cidade tão bonita, tão arborizada, lhe veio naturalmente o refrão neste verso: “Nesse vale tão bonito, entre a serra e o mar, onde fica Novo Hamburgo, minha cidade, meu lar”. O músico lembra que entrou em solo hamburguense e, dirigindo-se a Canudos, passou em frente à Fundação Scheffel, artista cuja obra tem um valor histórico e cultural imensurável para nós. Nas suas referências o prédio era a Casa Velha. Não era, mas ele acrescentou à letra: “Casa Velha é um recanto onde a arte foi morar”. E isso ficou na música que concorreu no Festival de Canto da cidade.
“Quando foi para oficializar a inscrição no projeto, julgou-se melhor não destacar um estabelecimento ou entidade, mas ressaltar a globalização cultural de Novo Hamburgo. Na hora eu matei a charada e ficou assim: Novo Hamburgo é um recanto onde a arte foi morar e a Fenac do calçado é o orgulho do lugar”.

O movimento cultural daqui chamava a atenção de todo o estado. Naqueles gloriosos tempos, Lourival Pereira liderava a trupe teatral com uma turma maravilhosa e com muitos valores. “Eu acho que acabei englobando tudo em quatro frases no refrão. Mas precisava contar a história. Voltei às informações da professora Liene e saiu assim: – Foram poucos imigrantes, vindos lá do fim do mar, desbravaram essas terras, trabalhando sem cessar. Quis valorizar o trabalho desses pioneiros que vieram aqui, desbravaram estas terras. Tudo que vivenciamos hoje é resultado do trabalho que foi iniciado por essa gente.” Nasceu assim o hino de Novo Hamburgo!
Como tu vês a nossa cidade aos 92 anos, Délcio? “Infelizmente a vida pública sofreu transformações profundas. Hoje um gestor público encontra barreiras legais para fazer o que precisa ser feito, má vontade política, parece que as pessoas não querem ver as coisas acontecendo. Isso é lamentável. Mas nós temos uma administração com visão, nossas praças estão voltando a florir e sorrir. Com vontade de fazer acontecer vamos superar o que atrapalha e isso vai nos motivar e inspirar. Para sair alguma coisa que faça sentido e que toque o coração das pessoas, mudar é essencial. ”
Délcio Tavares também compôs o Hino do Esporte Clube Novo Hamburgo, no ano em que fomos campeões estaduais. Em 2016, com o campeonato em andamento, ele escreveu: Esporte Clube Novo Hamburgo, és o time do meu coração, anilado do Vale dos Sinos, teu destino é ser campeão”. E assim foi”
Fotos: Divulgação
Obrigado Jorge,mais uma vez uma bela história, inaltecendo nossos habitantes e resgatando a nossa história. Parabéns…
🎵🎶Foram poucos imigrantes, vindos lá do fim do mar…🎶🎵
Muito bacana a entrevista
Jorge, parabéns por mais um belo texto! Estava ansioso por conhecer a história do nosso hino e fico muito feliz em acompanhar esse lindo trabalho que vem fazendo! Sucesso, sempre!
Legal Jorge este trabalho de reviver a nossa história.
Querido Jorge! Que linda reportagem. Que bela entrevista. O meio ambiente cultural de Novo Hamburgo torna-se ainda mais enriquecido pela história de seu hino. As inspirações declaradas e a fala poetizada de quem vê na cidada e sua origem toda riqueza expressa na letra: “Novo Hamburgo é um recanto onde a arte foi morar e a Fenac do calçado é o orgulho do lugar”. Parabéns pelo sucesso de cada nova postagem. Sensacional
Parabéns, por trazer mais conhecimento cultural de nossa cidade.
No ano de 1983, na EMEF Prudente de Morais, aprendi o Hino, com o próprio Delcio. E aprendi com o trecho “casa velha é um recanto”… Infelizmente Hamburgo Velho perdeu a “casa velha”…
Fico encantada com as histórias da nossa região, apesar de ter nascido em POA, sou Hamburguense de coração! Adorei saber que a Casa Velha estava na letra da música! Trabalhei lá em 1981, e tive o privilégio de conhecer muitos artistas locais e nacionais! Parabéns Jorge! E obrigada pelas histórias, que sempre de alguma forma, fazem parte da história de cada um de nós!
Oi Jorge! A reportagem ficou ótima! Deixo meu abraço ao Délcio Tavares que por alguns anos também foi meu vizinho. Faz muito tempo que não o vejo! Fiquei com saudades do tempo em que a gente se encontrava com as crianças na rua Flores da Cunha, antes ou no final da escola. Abraço, Suzana
Parabéns… E merecida