A algazarra das crianças fazia trepidar a casa ao entrarem correndo e gritando pela porta dos fundos e, zunindo, saltarem pela janela da sala para o pátio.
O último a chegar é mulher do padre! Aquele circuito era refeito dez mil vezes a cada dia nas brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde ou numa atividade enérgica que fizesse o mundo girar mais rápido e o tempo passar mais depressa.
Quanta expectativa. Quanta demora! A árvore, até ficar pronta, levava dias. Tinha-se que transportá-la até a casa, instalá-la, enfeitá-la com cuidado e harmonia. E o presépio, então, requeria muita atenção. Tudo tinha o seu lugar: a manjedoura com o menino Jesus; Maria e José ao seu lado. Os reis magos um pouquinho mais distantes. Ovelhas esparsas. Lembro que um pedaço de espelho se passava por um lago e sobre ele colocava-se uma pontezinha feita com galhos, cipós e um naco de madeira. À frente era o espaço reservado aos presentes.
Naqueles dezembros antigos, a cozinha ficava envolta em nuvens aromáticas que se elevavam das panelas da vovó, das fornadas de doces recortados em forma de estrelinhas, cachorrinhos e pinheirinhos que, depois, eram pintados de neve, enfeitados com açúcares coloridos e protegidos para secarem sob alvíssimos panos de prato.
E o Papai Noel, quando vem, mamãe? Falta muito para o Natal chegar?
Nas semanas do Advento, se espalhavam o cheiro e o espirito natalino pelo ar. O mundo ficava contaminado de amor, os vizinhos se aproximavam mais e os pequenos se ouriçavam de tal forma que era impossível acalmá- los, senão, com singelas pagas como um doce recém pintado, uma guloseima ou até uma promessa de algo bom pra outro dia.
Cada família preparava o seu lar com o que tinha de melhor, tanto por dentro, como por fora. Assim, a rua toda se enfeitava. O bairro todo se encantava. A cidade inteira se tranformava. Que alegria era rever os primos, as primas, os tios, as tias. No entanto, os anos se passaram, os parentes se afastaram, os pais se ausentaram para sempre. A vida mudou, o tempo também.
Trago essas lembranças não só para ilustrar alguns bons momentos de criança. Trago essas lembranças para falar que tudo mudou e nada mudou. Continuamos humanos. Precisamos uns dos outros. Crescemos quando estamos juntos. Encolhemos quando estamos sós. Formamos famílias, construímos lares, nos transformamos em comunidades para nos desenvolvermos. Para nos elevarmos. Para nos educarmos. Para nos sentirmos gente. Sem esquecer, jamais, que viver continua sendo o magnifico presente que o Natal vem nos lembrar: viva a vida!
O tempo feliz tem que ser agora.
Feliz Natal!
Obrigado pela sua companhia. E que estejamos juntos no novo ano.
Lindo texto ,nos reporta ao tempo de infância com muita nostalgia 🙏🎄
Deixei um “tempo” dos meus 24 do dia para ler algumas publicações suas pelo interesse de conhecer suas opiniões sobre assuntos de imóveis, administração e tantos outros. A formas que temos de nos expressar em palavras identifica muito o que somos e perceber isso é também um dom. Gratidão ao universo que nos coloca estes dons próximos uns dos outros. Gostei dos seus relatos de natal.
Adorei teu texto! Transportei-me àqueles bons e quase inocentes tempos. Era muito bom, mesmo!