Fiquei deveras surpreso quando soube que nossa cidade foi escravagista. Sério, tivemos escravos em Novo Hamburgo e a área que concentrou a maioria deles, na época, chamava-se África. Hoje, conhecemos como bairro Guarani. O nome indígena vem de outro fato inusitado. Havia uma empresa de ônibus chamada Transporte Guarani e o coletivo tinha um cacique estampado na lateral.

O pessoal dizia: Vou pegar o Guarani. E, assim, o nome da empresa acabou batizando o bairro onde hoje reside o casal Maurício Martins e Liege Tagliari. Antes da conversa com eles, tive a oportunidade de um bate papo com o Zeca Martins, pai do Maurício, que me contou esses eventos, no mínimo, curiosos.
O Maurício conhecia a história, também através do Zeca. A Liege, ficou tão surpresa quanto eu. Nascido e criado no Guarani, Maurício conta que hoje sua rotina é fora do bairro, mas a vida dos dois é aqui. Já sua esposa afirma que tudo que precisa tem: salão de beleza, mercadinhos diversos, restaurantes, pet shop. O Outlet é perto, o acesso a bancos é tranquilo e o centro é um pulinho também. O bairro é bem estruturado em serviços.

Os imóveis valorizaram bem no Guarani. Liege comenta que tem preços que não condizem com a realidade. “Apesar de o bairro ter prosperado, alguns valores estão fora da curva”, diz ela, que nas suas idas e vindas fica pesquisando valores.
Maurício acredita que a valorização é sinal de evolução, de crescimento e afirma que poderia estar melhor ainda se as pessoas cuidassem do patrimônio público, não vandalizassem. “Não me refiro só ao Guarani, acho que nossa sociedade precisa rever conceitos. Precisamos cuidar do que é nosso e isso envolve todos e também contamina, tanto positivamente como negativamente”, diz.
Ele cita o exemplo de um terreno na sua rua que tinha virado depósito de lixo. O dono fez calçada, roçou e pararam de colocar lixo no local. Não é sempre assim, mas é um exemplo positivo, como acontece para os lados de Dois Irmãos, Morro Reuter, Ivoti. Tudo ali para cima é bem cuidado, a população se engaja, comenta.
Também é uma questão de educação, consciência. O governo deve dar o exemplo, claro. Ambos acreditam que o bairro valorizaria ainda mais com uma padronização das calçadas, por exemplo. A área plana é favorável para que as pessoas caminhem, se apropriem dos espaços de verdade. Mas há muitos desníveis, má conservação dos passeios públicos.

Faltam boas lixeiras nas ruas. A infraestrutura de uso social precisa ser aprimorada. Uma poda regular das árvores também ajudaria a deixar o bairro mais bonito e atraente para investir. Aí as pessoas já se animam a cortar sua grama, cuidar do jardim, da praça. Assim, vamos melhorando, finaliza Liege.
Espero que vocês tenham gostado da nossa passagem pelo bairro Guarani. Para mim, foi surpreendente conhecer uma pequena parte da nossa história, mas também foi positivo ver que em todos os cantos da cidade, os cidadãos estão cada vez mais conscientes da importância da ação de cada um para fazer uma Novo Hamburgo melhor.
Fotos: Marcos Quintana
Muito interessante, Jorge! Já tinha ouvido essa referência – África- a algum local em NH, mas não conhecia a história nem sabia que seria o bairro Guarani. A origem do nome, muito menos! Adorei!
Eu não moro no bairro guarani,mas tenho amigos que moram lá e como é legal saber que esse bairro tem uma história e como isso deixa tudo mais valorizado,e com um conteúdo melhor…Parabéns Jorge,um ótimo trabalho…
No Casarão dos Friedrich contam bem esta história sobre a escravidão e posteriormente o nascimento do bairro África e sua cultura.
Bom dia.
Conheço o proprietário do casarão Friedrich, e conhecia essa história dos escravos, muito interessante.
Uma belíssima propriedade.
Muito boa reportagem Jorge, o Nivio Fridrich é um bom amigo